Trabalhos Expostos

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

NEUROSE OBSESSIVA


FILME “ESPERAR PARA SEMPRE”


Jessica Santos; Josefa Elizabetty; Juliany Roque; Rita de Cássia e Suênia Bernardino


INTRODUÇÃO

Partindo da perspectiva do filme "Esperar para Sempre" onde no desenrolar do drama é possível acompanharmos a trajetória de um jovem adulto que atende pelo nome de Will Donner (Tom Sturridge) que tem uma obsessão por sua amiga de infância Emma Twist (Rachel Bilson) e essa amizade deixa de ser uma amizade sadia para tornasse algo desconfortável para o rapaz. De forma singular e objetiva as estruturas psicanalíticas seria a imagem que se tem do pai, em relação ao complexo de Édipo.
Will sofria de um sintoma causado por drama na infância desde a morte dos seus pais, para evitar sofrimento maior sua mente se organizou em um resultado harmônico, ele estava tão egossintônico que não percebia seu próprio sofrimento. Essa organização mental está constituída por um traço de caráter. A neurose obsessiva é um modo de sofrer consciente no pensamento. No entanto a fobia de angustia implica sofrer conscientemente com o mundo que cerca, porém, a histeria converte o gozo inconsciente num sofrimento corporal. No entanto o personagem Will Donner era um rapaz que sofria de neurose obsessiva podendo ser  denominado através de observações e estudos bibliográficos.


DESCRIÇÃO DO FILME

Título: Waiting For Forever (Original); Ano de produção: 2010; Produtores: James Keach e Trevor Albert; Dirigido por: James Keach; Duração: 95 minutos; Classificação: 12 anos – Não recomendado para menores de 12 anos; Gênero: Drama Romance; País de Origem: Estados Unidos da América do Norte; Estreia: 2011 (Brasil); Título em Português: Esperar para Sempre.
Sinopse: Emma (Rachel Bilson) e Will (Tom Sturridge) cresceram juntos, se separam após a morte dos pais de Will, quando ele se mudou para a casa dos tios em outra cidade. Eles manterão contato até o final da adolescência. Para Will, Emma nunca deixou de ser a pessoa mais importante da sua vida. Acreditando que eles estão ligados para sempre, ele vai aonde ela vai. Will não possui casa, carro, ou um trabalho “de verdade”. Ele sobrevive de seu talento como malabarista e talentos performáticos afiados com anos de exibição para Emma. Quando o pai de Emma fica doente, ela volta para sua terra natal, tentando deixar para trás sua vida amorosa complicada e uma carreira fracassada como atriz.
Elenco: Tom Sturridge – Will Donner; Rachel Bilson – Emma Twist; Richard Jenkins - Richard Twist; Blythe Danner – Miranda Twist; Scott Mechlowicz – Jim Donner; Jaime King – Susan Donner; Nikki Blonsky – Dolores; Frank Gerrish – Taxi Driver; Jamey Anthoy – Café Flirt; K. C. Clyde – Dennis; K. Danor Gerald – Detective 2; Larry Fillon – Larry the Bartender; Matthew Davis (1) – Aaron; Nelson Franklin – Joe; Richard Gant – Albert; Roz Ryan - Dorothy


DESCRIÇÃO DO PERSONAGEM

Will Donner é do sexo masculino, tem aproximadamente 25 anos e usa sempre pijamas. Will sempre foi protegido pelos pais e apegado a eles, idealizou a mãe como uma mulher perfeita. Passou sua infância ao lado de Emma Twist. As 8 anos de idade perdeu seus pais num acidente de trem, enquanto o mesmo encontrava-se na escola. No entanto, Will esperava o regresso dos seus pais, e então, Emma falou “eles sempre estarão ao seu lado”, após uma noite Will percebeu que seus pais não iriam voltar, foi aí que ele entendeu que seus pais estavam mortos.
Will e seu irmão Jim Donner foram morar com seus tios em outra cidade. Manteve contato com Emma por cartas até o fim da sua adolescência. Após perder o emprego, Will começa a perseguir Emma Twist e passa a viver de malabarismo e de seus talentos performáticos.
Will apresentava perda de sensibilidade na coxa direita, conversava com os pais diariamente mesmo eles mortos, tinha uma adoração pela sua amiga de infância, perseguia por onde ela andava, embora não fizesse contato. A cada vez que tentava se aproximar sentia-se angustiado a tal ponto de sentir uma falta de ar, tão forte que o fazia tremer e suar.


ESTRUTURA NEURÓTICA

A neurose seria a imagem que se tem do Pai em relação ao complexo de Édipo, por ser um pai sem falha, não castrado; e é por isso que o neurótico tem um eu forte, por negar com todas as suas forças que não sofreu castração. As neuroses transferenciais se originam de recuar-se o ego a aceitar um poderoso impulso instintual do id ou a ajudá-lo a encontrar um escoador ou motor, ou de o ego proibir àquele impulso o objeto a que visa.
Uma doença qualquer não é uma coisa. “É uma estrutura muito mais complicada, e temos que tentar ver, funcionalmente, essa complicação.” (Bleger, J. _ op. cit., p. 309). De acordo com Kusnetzoff (1982), para fazer uma análise sintática de como se articular as estruturas psíquicas, estabeleceremos uma distinção entre sintoma, caráter, inibição e estereotipia.
Sintoma: Estado de sofrimento que o paciente acusa, e do qual está querendo se livrar, porquanto o sente como um corpo estranho a si. Tendo a possibilidade de este sintoma ser manifestado também de forma clara e assim observável pelos outros. Porém, que está tão egossintônica que o paciente, aparentemente, não o está percebendo e então sofrendo.
Caráter: Um estado organizado da mente e da conduta que pode resultar harmônico e saudável, mas também pode acontecer que, por mais sofrimentos que possam está causando aos outros e cometendo prejuízo a si próprio, muitas vezes mutilando suas capacidades latentes e reais, sempre prevalece uma egossintonia, escudada em racionalizações muito bem engendradas.
Inibição: É um estado que tanto pode ser a preliminar de um sintoma que está se organizando como também já estar constituído por um permanente traço de caráter.
Estereotipia: Designa aquelas atitudes aparentemente normais que o sujeito executa no dia-a-dia, mas que uma observação mais atenta vai comprovar que ele executa seus papeis em todos os âmbitos de uma forma mecânica, sem fazer modificações, girando em torno de uma mesma órbita, como quem cumpre papéis fixos e estereotipados que desde muito cedo foram designados por seus pais ou educadores, de forma a mutilar sua personalidade.
Joël Dor, em seu livro: “O pai e sua função em psicanálise” (1989), distinguem a histeria da neurose obsessiva pelas vertentes do ser e do ter. Para ele, "assim como convém designar os sujeitos histéricos como militantes de ter, o obsessivo já se apresenta como um nostálgico do ser que comemora incansavelmente, os vestígios de um modo particular de relação que a mãe manteve com ele." 
Segundo Dor (1989), toda a questão obsessiva reside nessa nostalgia de ser o falo materno, uma vez que "não há romance familiar obsessivo em que o interessado não se remeta a esse privilégio de ter sido pressentido como o filho preferido pela mãe". Por outro lado, Dor entende que "é justamente porque o histérico se sente injustamente privado do objeto do desejo edipiano - o falo - que a dinâmica do desejo vai essencialmente ressoar ao nível do ter". Sendo assim, estruturamos a neurose em Obsessiva e Histeria.
Não é contradição que, empreendendo a repressão, no fundo o ego esteja seguindo as ordens do superego, ordens que, por sua vez, se originam de influências do mundo externo que encontraram representação no superego. Mantém-se o fato de que o ego tomou o partido dessas forças, de que nele as exigências delas têm mais força que as exigências instintuais do id, e que o ego é a força que põe a repressão em movimento contra a parte do id interessada e fortifica a repressão por meio da anticatexia da resistência. O ego entra em conflito com o id, a serviço do superego e da realidade, e esse é o estado de coisas em toda neurose de transferência (FREUD, 1923).
Ou seja, na neurose há uma cisão da psique. Alguns conteúdos ficam recalcados, escondidos, em segredo e causa sofrimento nos sintomas dos quais a pessoa reclama. Assim podemos dizer que todos os neuróticos usam o recalque como mecanismo de defesa.


DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO DA ESTRUTURA PSICANALISTA COM O PERSONAGEM

É interessante observar que, nas estruturas psicanalíticas, se não estudadas a fundo e se não forem bem analisadas de acordo com as atitudes e ações da pessoa que sofre da neurose, podem ser facilmente confundidas, visto algumas semelhanças entre essas. De fato, a grande diferença entre a neurose histérica e obsessiva é que, enquanto a histeria é manifestada no corpo, a obsessiva desponta no pensamento. O personagem que escolhemos para representar nosso trabalho, Will Donner, apresentou vários indícios que se trata de um neurótico obsessivo. Da estrutura obsessiva, pode-se destacar: “1. as formações obcecantes; 2. o isolamento e a anulação retroativa; 3. a ritualização; 4. as formações reacionais; 5. o trio: culpa, mortificação e contrição; 6. o conjunto de quadro clínico habitualmente designado, desde Freud, pela expressão ‘caráter anal’.” (DOR, 1991).
Embora às vezes nos fizesse confundir com a neurose histérica, por causa de alguns sintomas físicos, como: a falta de ar que apresenta quando ao menos pensava em falar com sua amada e uma dormência apresentado no joelho em razão de um acidente no parque quando eram crianças, esses fatos não atrapalha a vida dele em nada. Mas fazer da Emma o centro de sua vida e venerá-la a ponto de deixar de lado tudo em sua volta para persegui-la, de cidade em cidade, aponta a entrega de si mesmo que os obsessivos precisam fazer com relação ao seu objeto de desejo. De acordo com Dor (1991), o obsessivo tende sempre a dar o melhor de si, e está disposto a tudo e nada, com direito a sacrifícios significando o tudo e nada no sentido em que não aceita perder.
Dor (1991) destaca que os obsessivos geralmente apresentam-se entre os nostálgicos do ser, e essa nostalgia acontece pelo fato de serem os queridinhos da mãe ou então, em algum momento sentiu-se privilegiado junto a ela. Will era o filho mais novo e o preferido de sua mãe, é tanto que era sempre protegido de coisas ruins que poderia acontecer e tinha em Emma, sua melhor amiga, um relacionamento de grande importância. Ela era aquela que controlava suas ações. Quando num trágico acidente perde seus pais, acontece a castração simbólica. Então, Will transfere para Emma tudo o que sente pela mãe e agora tem nela seu grande objeto de desejo. Ele se muda para casa dos tios, em outra cidade, mas mantém contato com sua grande amiga, e com o tempo, quando percebe que estão se distanciando, decide abandonar tudo e segui-la pra todo lugar que ela vai, no entanto, sem achegar-se.
O obsessivo não pode perder. Esta negociação psíquica, totalmente intolerável, ressoa de maneira bem invasora em todos os níveis da vida cotidiana. Do mesmo modo que o obsessivo apresenta uma disposição favorável a se constituir como tudo para o outro, deve despoticamente tudo controlar e tudo dominar, para que o outro não lhe escape de maneira nenhuma, isto é, para que ele não perca nada. A perda de alguma coisa do objeto só pode, com efeito, remetê-lo à castração, ou seja, para o obsessivo, a uma falha em sua imagem narcísica. Inversamente, ultrapassar a castração é sempre tentar conquistar e manter um status fálico junto à mãe e, mais geralmente, junto a qualquer mulher. Como a Lei do pai permanece, todavia, onipresente no horizonte do desejo obsessivo, a culpa é irremediável, É esta ambivalência alimentada entre a nostalgia fálica e a perda implicada pela castração que inscreve o obsessivo numa posição estruturalmente específica com relação ao pai. (DOR, 1991, p. 105)

Na explicação que encontramos em Almeida (2010), na neurose obsessiva, o sujeito está distante do desejo, distância essa relacionada à sensação de prazer que foi recalcada, que se tornou inconsciente. Na neurose obsessiva o desejo é o centro de sua prática. Will não se aproximava de Emma, o simples fato de observá-la de longe era o suficiente para satisfazê-lo, quando pensava em aproximar-se, aparecia a falta de ar.
De acordo com Mees (1999), o obsessivo é avesso a mudanças e precisam de rituais padronizados. Notarem que existem diferenças faz com que se sintam de mãos atadas, sem saber o que fazer com isso e consigo mesmo. Will resiste a mudanças na sua vida e na vida de Emma. Para ele, sua relação com ela continua a mesma de quando crianças, e quando enfim consegue chegar perto de Emma, ele a leva para os mesmos lugares e para fazer exatamente as mesmas coisas de quando eram pequenos. Inclusive em uma cena, ao perceber que existem pessoas sentadas no lugar que eles costumavam sentar, ele pede para que essas pessoas saiam para que ele fique lá com ela, girando no banco assim como fazia no passado.
Isso acontece também devido ao recalque, que é o principal mecanismo de defesa no obsessivo. Para que esse prazer (sua amada), não se torne um desprazer, Will se prontifica que tudo o que eles faziam quando eram felizes na infância, seja reavivado nas lembranças de sua amada. Ele fantasia tudo o que poderá fazer com ela, quando se aproximar, para que esses momentos felizes voltem à memória dela e que ela também entenda que é importante que esses tempos não acabem, e assim como ele, aceite que tudo continue da mesma forma. Sabendo que ela pode querer dar um basta em sua fantasia, já que os obsessivos tem consciência que o que fazem pode não ter sentido para outros, então, ele prepara para que esse encontro seja realizado entre eles exatamente no lugar onde viveram os momentos bons e recria todos eles, da mesma forma como acontecia.
Almeida (2010) explica que a mulher amada pelo obsessivo é colocada num pedestal de veneração e deve se fazer de morta, pois ela é colocada como um objeto não desejante, ou seja, nada demanda, pois quando demanda, ela também deseja e isso o faz correr perigo. No momento que ela não aguenta ficar como sombra desse homem obsessivo e se coloca como ser desejante, exigindo algo, o obsessivo deixa de ser “feliz” e o relacionamento perde totalmente o valor.
Observa-se no caso de Will que, por fim, após ter o espaço que o mesmo necessitava cedido por Emma para que ele conte o que sente, e tudo o que tem feito por esse amor, ele se torna dependente dela, esperando que a mesma como objeto não desejante se faça de morta, como forma de gratidão por seus esforços, uma maneira que o obsessivo encontra de fazê-la aceitar a demanda proposta por ele. Porém, ele sofre com a resposta do outro (Emma), pois, para ele, quando ela exige que ele pare de persegui-la, ela passa a ser aquela que demanda assumindo o papel de desejante, perdendo o valor do desejo para Will. Após o momento de proibição dita por Emma para Will, ele se afasta da mesma procurando uma nova maneira de voltar a ser “feliz”.


CONCLUSÃO

Após essa analise podemos concluir que Will Donner é um neurótico obsessivo, que ao perder os pais passa pela castração, e transfere o desejo que tinha pela mãe para a amiga Emma Twist.
O neurótico sente o prazer em ver o objeto de desejo e não manter contato. Quando essa lei do obsessivo é quebrada, ocorre o desprazer ou a morte do desejo obsessivo. No filme “Esperar para sempre”, quando o desejo de Will não é correspondido ocorre o desprazer, fazendo com que Will sinta-se triste. O desprezar deixa Will Donner perdido, pois a sua vida girava em torno da sua amiga Emma, e quando a relação é quebrada Will fica perturbado caminhando entre os carros. Will consegue sua liberdade da obsessão, quando é preso acusado de matar o amigo de Emma, nesse momento ele se choca com a realidade, pois, até então, Will estava preso na infância, e suas lembranças reprimidas estavam sendo passada para o consciente através do recalque.


REFERENCIAS

DOR, Joel. Estrutura e clínica psicanalítica. Traduzido por: BASTOS, Jorge; TELLES André. Rio de janeiro: Tauros timbre, 1991.
FREUD, S. O Ego e o Id e outros trabalhos. Traduzido por: Roan Riviere. Londres, 1927. ed. Standard Brasileira, 1927.
KUSNETZOFF, J.C.Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Traduzido por:  EDITORA NOVA FRONTEIRA S.A. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
MEES, Lúcia Alves. A neurose obsessiva. Porto Alegre: Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 1999. p. 37.
ZIMERMAM, D.E. Fundamentos Psicanalíticos (Teoria, Técnica e Clinica). Traduzido por: EDITORA ARTMED, S.A. Porto Alegre, 1999.

ROMAN, M. F. Complexo de Édipo e Estruturas Clínicas. Disponível em: http://lacan.orgfree.com/textosvariados/edipoeestruturasclinicas.htm .Acesso em 13 de Setembro de 2016.

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