FILME “ESPERAR PARA SEMPRE”
Jessica Santos; Josefa Elizabetty; Juliany Roque; Rita de
Cássia e Suênia Bernardino
INTRODUÇÃO
Partindo da perspectiva do filme "Esperar para
Sempre" onde no desenrolar do drama é possível acompanharmos a trajetória
de um jovem adulto que atende pelo nome de Will Donner (Tom Sturridge) que tem
uma obsessão por sua amiga de infância Emma Twist (Rachel Bilson) e essa
amizade deixa de ser uma amizade sadia para tornasse algo desconfortável para o
rapaz. De forma singular e objetiva as estruturas psicanalíticas seria a imagem
que se tem do pai, em relação ao complexo de Édipo.
Will sofria de um sintoma causado por drama na infância
desde a morte dos seus pais, para evitar sofrimento maior sua mente se
organizou em um resultado harmônico, ele estava tão egossintônico que não
percebia seu próprio sofrimento. Essa organização mental está constituída por
um traço de caráter. A neurose obsessiva é um modo de sofrer consciente no
pensamento. No entanto a fobia de angustia implica sofrer conscientemente com o
mundo que cerca, porém, a histeria converte o gozo inconsciente num sofrimento
corporal. No entanto o personagem Will Donner era um rapaz que sofria de
neurose obsessiva podendo ser denominado
através de observações e estudos bibliográficos.
DESCRIÇÃO DO FILME
Título: Waiting For
Forever (Original); Ano de produção: 2010; Produtores: James Keach e Trevor Albert;
Dirigido por: James Keach; Duração: 95 minutos; Classificação: 12 anos – Não
recomendado para menores de 12 anos; Gênero: Drama Romance; País de Origem:
Estados Unidos da América do Norte; Estreia: 2011 (Brasil); Título em
Português: Esperar para Sempre.
Sinopse: Emma (Rachel Bilson) e Will (Tom Sturridge)
cresceram juntos, se separam após a morte dos pais de Will, quando ele se mudou
para a casa dos tios em outra cidade. Eles manterão contato até o final da
adolescência. Para Will, Emma nunca deixou de ser a pessoa mais importante da
sua vida. Acreditando que eles estão ligados para sempre, ele vai aonde ela
vai. Will não possui casa, carro, ou um trabalho “de verdade”. Ele sobrevive de
seu talento como malabarista e talentos performáticos afiados com anos de
exibição para Emma. Quando o pai de Emma fica doente, ela volta para sua terra
natal, tentando deixar para trás sua vida amorosa complicada e uma carreira
fracassada como atriz.
Elenco: Tom Sturridge – Will Donner;
Rachel Bilson – Emma Twist; Richard Jenkins - Richard Twist; Blythe Danner –
Miranda Twist; Scott Mechlowicz – Jim Donner; Jaime King – Susan Donner; Nikki
Blonsky – Dolores; Frank Gerrish – Taxi Driver; Jamey Anthoy – Café Flirt; K.
C. Clyde – Dennis; K. Danor Gerald – Detective 2; Larry Fillon – Larry the
Bartender; Matthew Davis (1) – Aaron; Nelson Franklin – Joe; Richard Gant –
Albert; Roz Ryan - Dorothy
DESCRIÇÃO DO PERSONAGEM
Will Donner é do sexo masculino, tem aproximadamente 25 anos
e usa sempre pijamas. Will sempre foi protegido pelos pais e apegado a eles,
idealizou a mãe como uma mulher perfeita. Passou sua infância ao lado de Emma
Twist. As 8 anos de idade perdeu seus pais num acidente de trem, enquanto o
mesmo encontrava-se na escola. No entanto, Will esperava o regresso dos seus
pais, e então, Emma falou “eles sempre estarão ao seu lado”, após uma noite
Will percebeu que seus pais não iriam voltar, foi aí que ele entendeu que seus
pais estavam mortos.
Will e seu irmão Jim Donner foram morar com seus tios em
outra cidade. Manteve contato com Emma por cartas até o fim da sua
adolescência. Após perder o emprego, Will começa a perseguir Emma Twist e passa
a viver de malabarismo e de seus talentos performáticos.
Will apresentava perda de sensibilidade na coxa direita,
conversava com os pais diariamente mesmo eles mortos, tinha uma adoração pela
sua amiga de infância, perseguia por onde ela andava, embora não fizesse
contato. A cada vez que tentava se aproximar sentia-se angustiado a tal ponto
de sentir uma falta de ar, tão forte que o fazia tremer e suar.
ESTRUTURA NEURÓTICA
A neurose seria a imagem que se tem do Pai em relação ao
complexo de Édipo, por ser um pai sem falha, não castrado; e é por isso que o
neurótico tem um eu forte, por negar com todas as suas forças que não sofreu castração.
As neuroses transferenciais se originam de recuar-se o ego a aceitar um
poderoso impulso instintual do id ou a ajudá-lo a encontrar um escoador ou
motor, ou de o ego proibir àquele impulso o objeto a que visa.
Uma doença qualquer não é uma coisa. “É uma estrutura muito
mais complicada, e temos que tentar ver, funcionalmente, essa complicação.” (Bleger,
J. _ op. cit., p. 309). De acordo com Kusnetzoff (1982), para fazer uma análise
sintática de como se articular as estruturas psíquicas, estabeleceremos uma
distinção entre sintoma, caráter, inibição e estereotipia.
Sintoma: Estado de sofrimento que o
paciente acusa, e do qual está querendo se livrar, porquanto o sente como um
corpo estranho a si. Tendo a possibilidade de este sintoma ser manifestado
também de forma clara e assim observável pelos outros. Porém, que está tão
egossintônica que o paciente, aparentemente, não o está percebendo e então
sofrendo.
Caráter: Um estado organizado da
mente e da conduta que pode resultar harmônico e saudável, mas também pode
acontecer que, por mais sofrimentos que possam está causando aos outros e
cometendo prejuízo a si próprio, muitas vezes mutilando suas capacidades
latentes e reais, sempre prevalece uma egossintonia, escudada em
racionalizações muito bem engendradas.
Inibição: É um estado que tanto pode
ser a preliminar de um sintoma que está se organizando como também já estar
constituído por um permanente traço de caráter.
Estereotipia: Designa aquelas
atitudes aparentemente normais que o sujeito executa no dia-a-dia, mas que uma
observação mais atenta vai comprovar que ele executa seus papeis em todos os
âmbitos de uma forma mecânica, sem fazer modificações, girando em torno de uma
mesma órbita, como quem cumpre papéis fixos e estereotipados que desde muito
cedo foram designados por seus pais ou educadores, de forma a mutilar sua
personalidade.
Joël Dor, em seu livro: “O pai e sua função em psicanálise”
(1989), distinguem a histeria da neurose obsessiva pelas vertentes do ser e do
ter. Para ele, "assim como convém designar os sujeitos histéricos como militantes de ter, o obsessivo já se
apresenta como um nostálgico do
ser que comemora incansavelmente, os vestígios de um modo particular de relação
que a mãe manteve com ele."
Segundo Dor (1989), toda a questão obsessiva reside nessa nostalgia de ser o falo materno, uma vez que "não há romance familiar obsessivo em que o interessado não se remeta a esse privilégio de ter sido pressentido como o filho preferido pela mãe". Por outro lado, Dor entende que "é justamente porque o histérico se sente injustamente privado do objeto do desejo edipiano - o falo - que a dinâmica do desejo vai essencialmente ressoar ao nível do ter". Sendo assim, estruturamos a neurose em Obsessiva e Histeria.
Segundo Dor (1989), toda a questão obsessiva reside nessa nostalgia de ser o falo materno, uma vez que "não há romance familiar obsessivo em que o interessado não se remeta a esse privilégio de ter sido pressentido como o filho preferido pela mãe". Por outro lado, Dor entende que "é justamente porque o histérico se sente injustamente privado do objeto do desejo edipiano - o falo - que a dinâmica do desejo vai essencialmente ressoar ao nível do ter". Sendo assim, estruturamos a neurose em Obsessiva e Histeria.
Não é contradição que, empreendendo
a repressão, no fundo o ego esteja seguindo as ordens do superego, ordens que,
por sua vez, se originam de influências do mundo externo que encontraram
representação no superego. Mantém-se o fato de que o ego tomou o partido dessas
forças, de que nele as exigências delas têm mais força que as exigências
instintuais do id, e que o ego é a força que põe a repressão em movimento
contra a parte do id interessada e fortifica a repressão por meio da
anticatexia da resistência. O ego entra em conflito com o id, a serviço do
superego e da realidade, e esse é o estado de coisas em toda neurose de
transferência (FREUD, 1923).
Ou seja, na neurose há uma cisão da psique.
Alguns conteúdos ficam recalcados, escondidos, em segredo e causa sofrimento
nos sintomas dos quais a pessoa reclama. Assim podemos dizer que todos os
neuróticos usam o recalque como mecanismo de defesa.
DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO DA ESTRUTURA
PSICANALISTA COM O PERSONAGEM
É interessante observar que, nas estruturas
psicanalíticas, se não estudadas a fundo e se não forem bem analisadas de
acordo com as atitudes e ações da pessoa que sofre da neurose, podem ser facilmente
confundidas, visto algumas semelhanças entre essas. De fato, a grande diferença
entre a neurose histérica e obsessiva é que, enquanto a histeria é manifestada
no corpo, a obsessiva desponta no pensamento. O personagem que escolhemos para
representar nosso trabalho, Will Donner, apresentou vários indícios que se
trata de um neurótico obsessivo. Da estrutura obsessiva, pode-se destacar: “1.
as formações obcecantes; 2. o isolamento e a anulação retroativa; 3. a
ritualização; 4. as formações reacionais; 5. o trio: culpa, mortificação e
contrição; 6. o conjunto de quadro clínico habitualmente designado, desde Freud,
pela expressão ‘caráter anal’.” (DOR, 1991).
Embora às vezes nos fizesse confundir com a
neurose histérica, por causa de alguns sintomas físicos, como: a falta de ar
que apresenta quando ao menos pensava em falar com sua amada e uma dormência
apresentado no joelho em razão de um acidente no parque quando eram crianças,
esses fatos não atrapalha a vida dele em nada. Mas fazer da Emma o centro de
sua vida e venerá-la a ponto de deixar de lado tudo em sua volta para
persegui-la, de cidade em cidade, aponta a entrega de si mesmo que os
obsessivos precisam fazer com relação ao seu objeto de desejo. De acordo com
Dor (1991), o obsessivo tende sempre a dar o melhor de si, e está disposto a
tudo e nada, com direito a sacrifícios significando o tudo e nada no sentido em
que não aceita perder.
Dor (1991) destaca que os obsessivos
geralmente apresentam-se entre os nostálgicos do ser, e essa nostalgia acontece
pelo fato de serem os queridinhos da mãe ou então, em algum momento sentiu-se
privilegiado junto a ela. Will era o filho mais novo e o preferido de sua mãe,
é tanto que era sempre protegido de coisas ruins que poderia acontecer e tinha
em Emma, sua melhor amiga, um relacionamento de grande importância. Ela era
aquela que controlava suas ações. Quando num trágico acidente perde seus pais, acontece
a castração simbólica. Então, Will transfere para Emma tudo o que sente pela
mãe e agora tem nela seu grande objeto de desejo. Ele se muda para casa dos
tios, em outra cidade, mas mantém contato com sua grande amiga, e com o tempo,
quando percebe que estão se distanciando, decide abandonar tudo e segui-la pra
todo lugar que ela vai, no entanto, sem achegar-se.
O
obsessivo não pode perder. Esta negociação psíquica, totalmente intolerável,
ressoa de maneira bem invasora em todos os níveis da vida cotidiana. Do mesmo
modo que o obsessivo apresenta uma disposição favorável a se constituir como
tudo para o outro, deve despoticamente tudo controlar e tudo dominar, para que
o outro não lhe escape de maneira nenhuma, isto é, para que ele não perca nada.
A perda de alguma coisa do objeto só pode, com efeito, remetê-lo à castração,
ou seja, para o obsessivo, a uma falha em sua imagem narcísica. Inversamente,
ultrapassar a castração é sempre tentar conquistar e manter um status fálico
junto à mãe e, mais geralmente, junto a qualquer mulher. Como a Lei do pai
permanece, todavia, onipresente no horizonte do desejo obsessivo, a culpa é
irremediável, É esta ambivalência alimentada entre a nostalgia fálica e a perda
implicada pela castração que inscreve o obsessivo numa posição estruturalmente
específica com relação ao pai. (DOR, 1991, p. 105)
Na explicação que encontramos em Almeida (2010),
na neurose obsessiva, o sujeito está distante do desejo, distância essa
relacionada à sensação de prazer que foi recalcada, que se tornou inconsciente.
Na neurose obsessiva o desejo é o centro de sua prática. Will não se aproximava
de Emma, o simples fato de observá-la de longe era o suficiente para
satisfazê-lo, quando pensava em aproximar-se, aparecia a falta de ar.
De acordo com Mees (1999), o obsessivo é
avesso a mudanças e precisam de rituais padronizados. Notarem que existem
diferenças faz com que se sintam de mãos atadas, sem saber o que fazer com isso
e consigo mesmo. Will resiste a mudanças na sua vida e na vida de Emma. Para
ele, sua relação com ela continua a mesma de quando crianças, e quando enfim
consegue chegar perto de Emma, ele a leva para os mesmos lugares e para fazer
exatamente as mesmas coisas de quando eram pequenos. Inclusive em uma cena, ao
perceber que existem pessoas sentadas no lugar que eles costumavam sentar, ele
pede para que essas pessoas saiam para que ele fique lá com ela, girando no
banco assim como fazia no passado.
Isso acontece também devido ao recalque,
que é o principal mecanismo de defesa no obsessivo. Para que esse prazer (sua
amada), não se torne um desprazer, Will se prontifica que tudo o que eles
faziam quando eram felizes na infância, seja reavivado nas lembranças de sua
amada. Ele fantasia tudo o que poderá fazer com ela, quando se aproximar, para
que esses momentos felizes voltem à memória dela e que ela também entenda que é
importante que esses tempos não acabem, e assim como ele, aceite que tudo
continue da mesma forma. Sabendo que ela pode querer dar um basta em sua
fantasia, já que os obsessivos tem consciência que o que fazem pode não ter
sentido para outros, então, ele prepara para que esse encontro seja realizado
entre eles exatamente no lugar onde viveram os momentos bons e recria todos
eles, da mesma forma como acontecia.
Almeida (2010) explica que a mulher amada pelo obsessivo
é colocada num pedestal de veneração e deve se fazer de morta, pois ela é
colocada como um objeto não desejante, ou seja, nada demanda, pois quando
demanda, ela também deseja e isso o faz correr perigo. No momento que ela não
aguenta ficar como sombra desse homem obsessivo e se coloca como ser desejante,
exigindo algo, o obsessivo deixa de ser “feliz” e o relacionamento perde
totalmente o valor.
Observa-se no caso de Will que, por fim, após ter o
espaço que o mesmo necessitava cedido por Emma para que ele conte o que sente,
e tudo o que tem feito por esse amor, ele se torna dependente dela, esperando
que a mesma como objeto não desejante se faça de morta, como forma de gratidão
por seus esforços, uma maneira que o obsessivo encontra de fazê-la aceitar a
demanda proposta por ele. Porém, ele sofre com a resposta do outro (Emma),
pois, para ele, quando ela exige que ele pare de persegui-la, ela passa a ser
aquela que demanda assumindo o papel de desejante, perdendo o valor do desejo
para Will. Após o momento de proibição dita por Emma para Will, ele se afasta
da mesma procurando uma nova maneira de voltar a ser “feliz”.
CONCLUSÃO
Após essa analise podemos concluir que Will Donner é um
neurótico obsessivo, que ao perder os pais passa pela castração, e transfere o
desejo que tinha pela mãe para a amiga Emma Twist.
O neurótico sente o prazer em ver o objeto de desejo e não
manter contato. Quando essa lei do obsessivo é quebrada, ocorre o desprazer ou
a morte do desejo obsessivo. No filme “Esperar para sempre”, quando o desejo de
Will não é correspondido ocorre o desprazer, fazendo com que Will sinta-se
triste. O desprezar deixa Will Donner perdido, pois a sua vida girava em torno
da sua amiga Emma, e quando a relação é quebrada Will fica perturbado
caminhando entre os carros. Will consegue sua liberdade da obsessão, quando é
preso acusado de matar o amigo de Emma, nesse momento ele se choca com a
realidade, pois, até então, Will estava preso na infância, e suas lembranças
reprimidas estavam sendo passada para o consciente através do recalque.
REFERENCIAS
ALMEIDA, Alexandre Mendes. O desejo no neurótico obsessivo.
Psic. Rev. São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&sqi=2&ved=0ahUKEwib1t6GrIrPAhUHOCYKHXutAAgQFggcMAA&url=http%3A%2F%2Frevistas.pucsp.br%2Findex.php%2Fpsicorevista%2Farticle%2Fdownload%2F5219%2F3753&usg=AFQjCNHBWYcfpxxOCLLXYYKNriiXoSICsQ&sig2=qtOsRd48gCX4LpvYWpl6fQ&bvm=bv.132479545,d.eWE.
Acesso em:> 9 de setembro de 2016.
DOR, Joel. Estrutura e clínica psicanalítica.
Traduzido por: BASTOS, Jorge; TELLES André. Rio de janeiro: Tauros timbre,
1991.
FREUD, S. O Ego e o Id e outros trabalhos. Traduzido
por: Roan Riviere. Londres, 1927. ed. Standard Brasileira, 1927.
KUSNETZOFF, J.C.Introdução à Psicopatologia Psicanalítica.
Traduzido por: EDITORA NOVA
FRONTEIRA S.A. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
MEES, Lúcia Alves. A neurose obsessiva. Porto Alegre:
Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 1999. p. 37.
ZIMERMAM, D.E. Fundamentos Psicanalíticos (Teoria,
Técnica e Clinica). Traduzido por: EDITORA ARTMED, S.A. Porto Alegre, 1999.
ROMAN, M. F. Complexo de Édipo e Estruturas
Clínicas. Disponível em: http://lacan.orgfree.com/textosvariados/edipoeestruturasclinicas.htm .Acesso
em 13 de Setembro de 2016.