Trabalhos Expostos

sexta-feira, 22 de abril de 2016

NARCISISMO: HISTÓRIA DO CONCEITO E SUA RELAÇÃO COM A PSICANÁLISE.



Narcisismo:
 História do conceito e sua relação com a psicanálise




Ana Alice de Paiva

Andreia da Silva Gonçalves  
Gerlane da Cruz Barbosa
Jane Kelly de Assis Lopes
Marcio Laurentino da Silva
Patricia de Souza Ribeiro
Rebeca Santos Domingos



Resumo:

Este trabalho tem por objetivo descrever/discutir a definição do conceito de narcisismo desenvolvido por Freud, levando em consideração seu percurso histórico, sua importância e como o mesmo é utilizado dentro da psicanálise. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica dentro do campo de estudo com o propósito de ter respaldo e condições de alcançar o cumprimento do nosso objetivo.
Palavras-chave: Narcisismo. Conceito. Psicanálise.


1 Introdução

“Êxtase da libido” (FREUD, 1996, p. 38). Assim, Freud (1996) define a expressão narcisismo, distinguido-a em dois tipos: o narcisismo primário, que corresponde a um estado de onipotência infantil anterior a qualquer escolha de objeto exterior, considerando a criança ser movida pelo seu próprio objeto de amor; e o narcisismo secundário, refere-se a um reflexo da libido objetal sobre o ego, convergindo a certos estados patológicos, como a melancolia, histeria e outros.
Para a psicanálise, o termo Narcisismo representa uma relação com a sexualidade e tem como principal expoente a teoria Freudiana. No entanto, na abordagem do presente trabalho contamos com os estudos de Tallaferro (1996); Fernandes (2002); Garcia-Rosa (2008); Zimerman (2007).
Para a teoria Freudiana o termo “Narcisismo” é abordado em várias etapas: narcisismo primário, narcisismo do ego e narcisismo secundário. Conceitos relacionados entre si que estabelecem proteção ao psiquismo e integração à imagem corporal, pois investe no corpo e lhe dá dimensões, proporções e a possibilidade de construção da identidade do Eu.
Temática ampla e complexa para a psicanálise, o narcisismo ultrapassa o auto-erotismo e fornece a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro.
Diante dessas prerrogativas, temos por objetivo descrever/discutir o conceito de narcisismo desenvolvido por Freud (1996) levando em consideração outros estudiosos; o percurso histórico e suas correlações com a psicanálise.


2 História do conceito

Freud utilizou o termo pela primeira vez em uma reunião da Sociedade Psicanalítica de Viena em 1909. O termo narcisismo aparece em seus escritos, ainda no mesmo ano, em uma nota de rodapé da segunda edição dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.
No artigo sobre Leonardo da Vinci e na análise do caso Schreber, Freud retorna ao conceito. De acordo com Fernandes (2002, p.11), é certo dizer que no primeiro momento o conceito de narcisismo é explicado a partir de estudos de casos de homossexualismo especificamente masculino.
Ao estudar o caso de Leonardo da Vinci, Freud teria demonstrado que a homossexualidade de Leonardo seria resultado de uma recordação de infância. Ele teria vivido com a mãe até os cinco anos, o que causou uma forte ligação. E suas condutas sexuais estavam ligadas ao objeto de amor que foi definido por sua pulsão sexual, neste caso a figura materna.
Conforme Fernandes (2002, p.12), a descoberta da castração teria feito Leonardo regredir e substituir o amor objetal pela identificação com a mãe. Assim teria “regredido ao estágio do desenvolvimento onde o ego não se distingue do objeto, ... seus objetos de amor seriam escolhidos de acordo com sua própria imagem pela via do narcisismo.” .
Até este momento a explicação do narcisismo estava ligada a escolha de objeto do homossexual. A partir do Caso ChreberFreud começa a explicar o papel do desejo homossexual na aquisição da paranoia. Para Freud tanto Chreber, quanto Leonardo teriam ainda na infância se fixado em uma figura feminina, neste caso a mãe.
Ao identificar-se com a mãe Chreber toma a si mesmo como objeto sexual, o que mais a diante o levaria a tomar como objeto outros homens que se pareciam com ele. Assim os sintomas paranóicos teriam surgido como uma negação ou defesa contra os desejos homossexuais. O mecanismo de projeção também seria importante no surgimento dos sintomas paranóicos.
Na formação do sintoma da paranoia é chamativo, sobre tudo, aquele traço que merece o título de projeção. Uma percepção interna é sufocada, e como substituto dela advém à consciência, seu conteúdo, logo que experimenta certa desfiguração, como uma percepção de fora. No delírio de perversão, a desfiguração consiste numa mudança de afeto; o que estava destinado a ser sentido dentro como amor é percebido como ódio do que está fora (MOZANI, 1989 apud FERNANDES 2002, p. 15).

Garcia-Rosa (2008), diz “que nos Três ensaios” Freud caracteriza o auto-erotismocomo um estado original da sexualidade infantil, anterior ao narcisismo”. No auto-erotismo não é necessário um objeto externo para satisfazer a pulsão sexual, pois seria encontrada no próprio corpo.
Antes do artigo de 1914, Introdução ao narcisismo, o conceito de narcisismo era entendido como perversão. Segundo Garcia-Rosa (2008):

...a partir do texto sobre o narcisismo, deixa de ser concebido como perversão e passa a ser apontado como forma necessária de constituição da subjetividade. O narcisismo é condição de formação do eu, chegando mesmo a se confundir com o próprio eu. (GARCIA-ROSA, 2008, p.42)


A introdução do conceito de narcisismo resultou em mudanças na teoria psicanalítica. Retomada de alguns conceitos e o surgimento de outro, como os de libido egóica ou narcisista e libido objetal.


3 O conceito de narcisismo

O narcisismo seria uma torção do eu, quando o eu toma o lugar do objeto sexual e se faz amar e desejar pela pulsão sexual. Ele passa a ser o próprio objeto. O eu pulsão sexual ama o eu objeto sexual, ama a si mesmo.
Para tentarmos entender melhor segue o mito narrado por Cabral, in Estória de Narciso e Eco:
Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali, a ninfa ECO, que era uma tagarela incorrigível, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem deixar que a notasse. Eco, em virtude de sua tagarelice, foi punida por Hera, esposa de Zeus, para que sempre repetisse os últimos sons que ouvisse (por isso, na física, chamamos de eco a reverberação do som). Por sua vez, Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver.
Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente, deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado (pois sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse), enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava “dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado. A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. Do fundo da lagoa, surgiu a flor que recebeu o nome de Narciso e tem as suas características.

No mito podemos observar que o eu pulsão sexual de narciso ama o eu objeto sexual, que é representação da sua imagem nas águas da lagoa. A partir do artigo de 1914, o narcisismo passa a ser entendido como uma forma necessária para a formação da subjetividade. É a partir da segunda tópica de Freud que ocorre a distinção entre narcisismo primário e narcisismo secundário.
A princípio, o narcisismo primário parece ser uma fase entre o autoerotismo e o narcisismo secundário. De acordo com Fernandes (2002, p.27), o narcisismo primário “seria um momento normal do desenvolvimento que serviria como ponto de fixação para onde a regride libido”. Enquanto o narcisismo secundário, “designaria um retorno da libido ao ego após ter investido objetos externos.”


4 O caráter Fálico-narcísico

O conhecimento do caráter é importante para a análise do comportamento. Tallaferro (1996, p.189), afirma que “o caráter é uma modificação crônica do ego, que pode denominar-se endurecimento, no sentido de que é uma proteção contra perigos internos e externos”.
Dentre os diversos tipos de caráter classificados pela psicanálise o que nos interessa é o caráter fálico-narcísico. Este é seguro de si, pode ser em alguns momentos arrogante, elástico, forte e com frequência prepotente e imponente.
Conforme Tallaferro (1996, p. 206), a conduta de um fálico-narcísico é prepotente, deliberada e arrogantemente agressiva. Pessoas assim costumam evitar um possível ataque com um ataque antecipado, diante de qualquer arranhão a sua vaidade reagem com um mau humor, um bloqueio ou uma agressão. Apesar disso tendem a ter posições respeitáveis, e suportam mesmo que com dificuldade situações de subordinação.
Zimerman (1999,p.155), aponta alguns aspectos para prática analítica para pacientes com posição narcisista, “Todo e qualquer paciente é portador de algum aspecto da posição narcisista”, é necessário uma análise profunda. Para esses pacientes o desamparo caracteriza uma ferida narcisista. É importante como o analista vai trabalhar o problema das frustações.
Ele apresenta a classificação em dois tipos de narcisistas, o de “pele fina” que são supersensíveis e os de “pele grossa” que são arrogantes e procuram trocar de lugar com o analista. A comunicação e a linguagem pode ser um problema, pela frequência em que a linguagem não verbal pode ser empregada.
E a resistência que os pacientes podem apresentar, existe a possibilidade de abandono, de formação de impasses e uma análise de faz de conta. E analista pode se deparar com casos em que o paciente procura o analista para provar que não precisa da terapia.

5 O narcisismo primário 


Para Freud (1996, p. 97) o “eu” não é inato e que resulta de uma nova ação psíquica que se faz como um acréscimo ao auto-erotismo. Essa nova ação psíquica é o narcisismo.
Narcisismo não é igual a auto-erotismo, pois uma unidade comparável ao ego não existe desde o início, ele tem que ser desenvolvido; os instintos auto-eróticos se encontram desde o início. 
Dessa forma, Freud (1996) postula que um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais – ele próprio e a mulher que cuida dele – o que leva a considerações de um narcisismo primário em todos, o qual, em alguns casos, pode manifestar-se de forma dominante em sua escolha objetal.
Freud (1996) diz que o grande encanto de uma criança reside em grande medida em seu narcisismo, seu auto-contentamento e inacessibilidade.  Para Freud (1996) o desenvolvimento do ego consiste em um afastamento do narcisismo primário e dá margem a uma vigorosa tentativa de recuperação desse estado. Esse afastamento é ocasionado pelo deslocamento da libido em direção a um ideal do ego imposta de fora, sendo a satisfação provocada pela realização desse ideal.
Le Poulichet (1997, p.57) diz que o que vem a perturbar o narcisismo primário é o Complexo de Castração. É através dele que se opera o reconhecimento de uma incompletude que desperta o desejo de recuperar a perfeição narcisista. O narcisismo secundário se define como o investimento libidinal da imagem do eu, sendo essa imagem constituída pelas identificações do eu com as imagens dos objetos.   

6 Narcisismo Secundário

De acordo com Fernandes (2002, p. 27) o narcisismo secundário designaria um retorno da libido ao ego após ter investido objetos externo, de forma que a conduta narcísica se daria porque os investimentos libidinais são retirados do mundo exterior e reconduzidos ao ego introversão da libido.
Neste momento, as explicações fornecidas por Freud (1996) sobre narcisismo secundário fazem referência a certos estados extremos de regressão da libido, tal como ocorre na esquizofrenia: O delírio de grandeza... nasceu às custas da libido de objeto. A libido subtraída do mundo exterior foi conduzida ao ego, e assim surgiu uma conduta que podemos chamar narcisismo.
            Dessa forma, Fernandes (2002, p. 28) ressalta que o narcisismo designa também uma estrutura permanente do indivíduo normal. Permanente porque uma “dose” de narcisismo sempre estaria presente no sujeito, devido à ligação entre narcisismo e pulsão de autoconservação. A admissão desta ligação faz menção ao ponto de vista assumido por Freud (1996) na segunda tópica quando coloca a libido e a pulsão de autoconservação do mesmo lado como pulsões de vida.

  
7 O narcisismo e a constituição da noção de “EU”

 

Num primeiro momento, o ego (eu) para Freud (1996, p. 92) era o ego (eu) da psicologia corrente. Assim, propôs a constituição do ego (eu) a partir de ser ele o objeto da pulsão. O narcisismo seria o momento organizador das pulsões parciais, permitindo a passagem do auto-erotismo para o investimento libidinal de um objeto exterior. 
Em Freud (1996) o Eu (ego) não existe desde de o início, deve se constituir através de um ato pelo qual o eu identifica-se com a imagem de seu corpo, imagem que assume como sua, e mais ainda, como sendo ele próprio (ELIA, 1995). 
Embora o bebê não tenha condições neurológicas para dominar a organização de seu esquema corporal (ainda não pode coordenar seus movimentos) pode reconhecer-se no espelho. O conhecimento, a organização do próprio corpo, vem do exterior. Leite (1992) diz que haverá uma primazia, uma antecipação do psicológico sobre o fisiológico, e é assim que se constituirá a estrutura do sujeito humano.
Elia (1995) diz que é contra o estilo freudiano a tradução de Ich por Ego, e porta as marcas do positivismo cientificista na linguagem. Iché “Eu”, e o sentido que ele assumirá em Freud será devido à subversão de seu sentido na teoria e não ao uso de uma palavra incomum.
Antes da Introdução do Narcisismo o “EU” é uma massa ideacional consciente cujo principal objetivo é conservar a vida e reunir o conjunto de forças que, no psiquismo, se opõe à sexualidade (ELIA, 1995). É a sede das pulsões de auto-conservação (pulsões de vida) e é o pólo defensivo do psiquismo, interessado em conservar a vida.
Mas desde as Neuropsicoses de Defesa, com a ênfase do conceito de defesa (ato e função do eu), Freud (1996) rompe com a concepção neurologizante e passiva do eu. Elia (1995) diz que por essa relação com a conservação da vida (com afastamento/oposição ao sexual) a noção de Eu está aprisionada ao discurso psicobiológico. 
Freud (1996) ainda não havia elaborado uma teoria do eu consistente, que o concebesse a partir de uma perspectiva rigorosamente pulsional, de forma que antes do conceito de narcisismo o Eu estava situado diante dos investimentos pulsionais (uma pulsão sexual, sem sujeito, oriunda do inconsciente), defendendo-se, recalcando, produzindo e administrando conflitos, mas não entrava enquanto instancia subjetiva, como efeito do circuito pulsional.
Com a introdução do narcisismo anuncia-se o risco da totalização da pulsão na esfera do sexual. A libido é sempre sexual, consistindo o narcisismo precisamente na sexualização do Eu, sua erotização. Mas para Freud o sexual é não-todo. O narcisismo destitui o estatuto pulsional das pulsões do Eu ou de auto-conservação. 
Freud (1996) chega ao questionamento da necessidade de diferenciar uma libido sexual de uma energia não-sexual das pulsões do Eu, se o Eu tem um investimento primário da libido. Freud ficou diante do que fazer com as antigas pulsões (não-sexuais) do Eu, de autoconservação.
Elia (1992) lembra que diluir os interesses egóicos e autoconservadores do Eu na libido narcísica equivaleria a totalizar a experiência subjetiva em torno do sexual, excluindo da teoria o que escapa a significação sexual.
Elia (1992) enuncia que a posição teórico-clínica e ética de Freud sobre a sexualidade pode ser resumida em duas proposições complementares: (1) A sexualidade para a psicanálise é absoluta; (2) A sexualidade para a psicanálise é não-toda (não diz todo o sujeito).
Com a introdução do narcisismo Freud altera seu esquema pulsional anterior, postula a existência de uma só pulsão, a pulsão sexual, a libido, que passa a ter o Eu como uma de suas localizações possíveis.
Elia (1992) lembra que agora também o Eu é um dos alvos da libido, tanto quanto os demais objetos, mas não do mesmo modo. O Eu é irredutível ao mundo dos demais objetos e assume a força suficiente para constituir uma libido de natureza distinta, a que Freud dá o nome de libido narcísica. Não há assim, uma só libido e dois pólos de investimento (o Eu e os objetos), há duas libidos: o Eu, de um lado, constituindo a libido narcísica; e os outros objetos, do outro, constituindo a libido objetal.
Em 1920, Freud (1996) introduz o “Além do princípio do prazer”. Nessa obra ele estabelece uma nova teoria pulsional, a dualidade entre pulsões sexuais (ou Eros, ou pulsões de vida) e pulsões de morte (Thanatos, pulsão de destruição). As pulsões de auto-conservação são subsumidas pelas pulsões de morte, como pulsão parcial dessas últimas na medida em que o esforço do Eu para viver não terá outro objetivo se não o de garantir que venha a morrer.
Elia (1992) diz que a pulsão de morte define é o para além da sexualidade e do princípio do prazer. Ele diz que trata-se de afirmar a exclusividade do sexual, mas ao mesmo tempo circunscrevê-lo impedindo sua plenificação.

 8 Relação do Narcisismo com a Clínica

 

O narcisismo na clínica pode ser tratado como um transtorno de personalidade. Quem sofre deste transtorno tende a se preocupar obsessivamente com a maneira com que os outros o enxergam e com os aspectos que possam influir de algum modo na percepção da sua imagem, tais como: poder, prestígio e vaidade.
O diagnóstico raramente acontece e uma dificuldade é que essa patologia acontece de forma simultânea com outros transtornos de personalidade.
Parte das pessoas que tem esse transtorno demonstram um comportamento centrado, com pouca empatia, possível megalomania, demanda por atenção, inveja e crença de ser invejado.
Em relação ás causas do transtorno, ainda é desconhecida, no entanto, listam-se fatores identificados por vários pesquisadores que pode contribuir para tal condição. Sendo: Abuso emocional severo durante a infância, diminuição excessiva por parte dos pais, a ponto da criança perder a conexão com a realidade, temperamento de nascença muito sensível e criança muito mimada.

 9 Critérios Diagnósticos para F60.8 - 301.81 Transtorno da Personalidade Narcisista

Para diagnosticarmos o Transtorno de Personalidade Narcisista temos que considerar pelo menos cinco dos seguintes critérios:
(1) sentimento grandioso da própria importância (por ex., exagera realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações comensuráveis)
(2) preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal
(3) crença de ser "especial" e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada
(4) exigência de admiração excessiva
(5) sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas
(6) é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos
(7) ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias
(8) freqüentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia
(9) comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes;


Considerações finais

Diante do exposto, concluímos que a teoria narcisista, desenvolvida por Freud, compõe campo temático fecundo para os estudos da psicanálise, uma vez que contribui para a análise e formação da identidade do eu.
Sendo que, os instintos sexuais surgem do ego e só depois é que são ligados à satisfação dos instintos do ego, e mais na frente unem-se a partir do fato de que os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que cuidam dela.
Essa construção da identidade do eu, sob a ótica do narcisismo, é extremamente relevante para a análise e superação de estados patológicos como: melancolia e histeria.



Referências:

FREUD, S. Obras Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FERNADES, Elisângela Barboza. Narcisismo. Monografia. São Carlos, 2002.

GARCIA-ROSA, LUIZ Alfredo. Introdução à Metapsicologia Freudiana, v.3. ­-7. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

NASIO, Juan-David. O prazer em ler Freud. Tradução, Lucy Magalhães; revisão técnica, Marco Antônio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1999.

TALLAFERRO, Alberto. Curso básico de psicanalise. Tradução, Álvaro Cabral. 2.ed. São Paulo: Marins fontes, 1996.

CABRAL, João Francisco Pereira. "Estória de Narciso e Eco"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/mitologia/estoria-narciso-eco.htm>. Acesso em 27 de março de 2016.

Critérios Diagnósticos para F60.8 - 301.81 Transtorno da Personalidade Narcisista. Disponível em: http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerClassificacoes&idZClassificacoes=217. Acesso em 27 de março de 2016.

ZIMERMAN, David E. fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico] : teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

CASO SCHREBER




Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ENA8sCpj-6. Acessos em 29 de mar.2016 
CASO   SCHREBER
                     


ANDRADE, Viviane Guedes.
FIGUEIREDO, Ana Emilly Ferreira de.
SILVA, Ana Patrícia Cordeiro da.
SILVA, José Alexandre da.
SILVA, José Carlos Honorato.
RODRIGUES, Paula Ivone da Silva.



RESUMO

É importante trazer que, contrariamente a outros exemplos de Freud, o estudo sobre Schreber se realiza no testemunho de seus escritos. Freud não vivenciou esse caso clinicamente, porém a metodologia em estudo foi rigorosamente à mesma: só as palavras do paciente relatam sobre o fato; Checchinato (1988) afirmou que Freud não arriscou nenhuma interpretação que não surgisse do contraste delas na dialética viva do texto. Contudo, propomos o conhecimento do caso, tais como suas nuances e complexos, a visão de Freud para o mesmo e concluímos com a descrição do caso nos dias de hoje.

Palavras chaves: Paranoia, Neurose, Hipocondria, libido, internação.



1.INTRODUÇÃO
          
O Presente artigo trata-se do “Caso Schreber” um estudo sobre paranoia, descrevendo sobre sua vida e tópicos do tempo de doenças e internações, envolvendo os “surtos” que o mesmo desenvolvia durante essas fases como: Neurose, Psicose, Delírios, Paranóia e Hipocondria. Que estão ligados a níveis e sintomas parecidos.  A elaboração deste trabalho tenta fornecer subsídios do histórico de vida familiar, para uma melhor compreensão do caso, através de elementos que possam ser proveitosos à compreensão da realidade de algumas enfermidades, especificamente o corpo e sua relação com o psiquismo.
Em 25 de julho de 1842 nasce Daniel Paul Schreber, em Leipzig na Alemanha, filho do médico ortopedista e pedagogo, Daniel Gottlieb Moritz (1808-1861) e Louise Kenrietta Pauline Haase (1815-1907), uma família de burgueses protestantes, com uma rígida educação moral. Sabe-se que sua mãe era dominada por seu pai, uma mulher apática e deprimida.
Conforme afirma Carone (1995), o pai de Schreber se orgulhava de ter aplicado em seus próprios filhos seus métodos educacionais, dizendo que os resultados obtidos tinham sido excelentes. O que se sabe sobre a infância de Schreber é que ele se submeteu passivamente às técnicas educacionais empreendidas pelo seu pai. Pode-se considerar que ele foi um dedicado aluno, de natureza tranquila, que não demonstrava paixão em suas ações. Possuía um talento próprio que se embasava mais em uma crítica intelectual do que em atividades que requeressem o uso de sua imaginação e criatividade. Sua obra demonstra que ele possuía uma sólida e diversificada formação cultural (CARONE, 1995). 
Em 1858 o pai de Schreber sofreu um grave acidente aos 51 anos, quando uma barra de ferro caiu sobre a sua cabeça ocasionando um comprometimento em seu quadro mental e aos 53 anos morre no hospital em Leipzig vítima de obstrução intestinal, porém, acredita-se que tenha sido uma mentira apenas para disfarçar, e que na verdade foi uma deterioração mental.
Em 1877, o seu irmão mais velho se suicida aos 38 anos com um tiro na cabeça, ele era graduado em química, havia sido nomeado conselheiro no tribunal, porém o seu quadro mental apresentava psicose evolutiva.
Após a morte do seu pai e seu irmão em 1878 Schreber casa-se com Ottlin Sabine Behr (1857-1912), embora fosse um casamento feliz, os mesmos viviam superando o desprazer de não ter filhos, devido a vários abortos espontâneos.


1.A primeira doença/internação

No ano de 1884 Schreber se candidatou à eleição para Reichstag pelo Partido Nacional Liberal, mas foi derrotado ocasionando uma séria tensão emocional devido a sua candidatura. Neste período foi internado na clínica do Dr. Flechsig, um dos grandes nomes da psiquiatria Alemã, em Leipzig, onde tentou suicido por duas vezes, dizia estar emagrecendo de 15 a 20 quilos, mas havia engordado dois quilos, sentia-se incapaz de caminhar, pediu para ser fotografado seis vezes, pois acreditava estar incurável de suas crises de hipocondria, que é um quadro que se tem medo excessivo e não realista de ter algum sintoma ou condição de saúde que pode ameaçar sua vida, ainda não diagnosticado e cultivava ideias de que iriam afasta-lo de sua mulher.
Era sua primeira internação, mas não a 1ª crise hipocondríaca, porquê existiam indícios de que já havia sofrido outra crise em 1878. Após seis meses internado, Schreber recebeu alta do hospital, aparentemente curado em um relatório formal, o Dr. Flechsig descreveu o distúrbio nervoso como sendo uma crise grave de hipocondria.

1.2 Intervalo das doenças

Passaram oito anos em vivencia “normal” com sua esposa entre 1885 a 1893, tendo um sucesso profissional, (a outorga da cruz de Cavaleiro de Primeira Classe, em 1889) foi nomeado Presidente do Tribunal Regional de Freiburg, em 1889, membro por duas eleições internas do Colegiado Distrital de Freiburg, em 1891 e 1892. Em junho de 1893 foi nomeado para o cargo de Juiz-Presidente da corte, assumindo o cargo em outubro do mesmo ano.
Entre os meses de junho e julho de 1893 sonhou por duas vezes que a doença nervosa retornaria, esses sonhos o deixou muito ansioso, e nesse estado de sonolência, entre dormir e acordar lhe vem à cabeça que seria bom ser mulher e submeter ao ato copular (a mulher no ato sexual), pensamento este, rejeitado por muito tempo, associado à pressão em atender as exigências do cargo levou-o ao colapso mental.


1.3 segunda doença/internação
             
Entre 10 de novembro de 1893 a 20 de dezembro de 1902, surgem os primeiros sintomas da paranoia, da qual consiste em uma psicose, caracterizada pelo desenvolvimento de um pensamento delirante, crônico, lúcido e sistemático, provido de uma lógica interna própria sem apresentar alucinações, o paciente queixava-se  de amolecimento cerebral, tem a sensação de morte eminente, alucinações visuais, acreditava estar morto e em decomposição, relatou que seu pênis foi arrancado por uma “sonda de nervos”, torna-se evidente as fantasias mítico-religiosas, e ainda que, sofre de peste, assim retornando a Clínica de Flechsig, onde sua condição foi provada, dando entrada em 21 de novembro de 1893 na Clínica Universitária de doenças nervosas em Leipzig. Ainda nessa crise Schreber tenta suicídio através do enforcamento e do afogamento. Afirma que Deus fala com ele e que demônios zombam dele, passa a ouvir música celestial e presencia milagres, dorme mal e grita a noite pelo hospital.
Após 6 meses internado, em junho de 1894 foi transferido para o Sanatório Particular de Dr. Pierson em Lindenhof que ele chamava de “cozinha do diabo”. Sua internação durou apenas 15 dias e foi transferido novamente para o asilo Sonnenstein, onde passou oito anos e meio internado. Segundo o psiquiatra Dr. Weber era um quadro de “insanidade alucinatória” que evoluiu para o quadro clínico de paranóia.
Nos primeiros tempos no Sonnenstein ele se manifesta a noite, durante o dia ele escreve cartas, algumas delas em italiano e assina como “Paul, o Príncipe dos infernos”, no mês de novembro de 1895, foi um momento fundamental para a vida de Schreber, ele resigna e aceitar sua transformação em mulher.
Em 1899 ocupou-se pessoalmente em todos os processos para recuperar sua capacidade civil, alegando que estava em estado de inércia desde 1894 e que o seu tratamento estava irregular, no entanto só conseguiu sua recuperação de direitos perante à sociedade somente em segunda instância.
Começou a escrever suas memórias em 1900. Em 1902 Schereber recupera o direito de administrar os seus bens de modo autônomo. Ficou mais dois anos internado lá, alegando que necessitava planejar minuciosamente sua volta à sociedade. Recebeu alta em 20 de dezembro de 1902.


1.4 Intervalo entre a segunda e terceira doença
     
Entre 20 de novembro de 1902 a 27 de novembro de 1907, Schreber viveu com sua mulher e em 1903 publicou seu livro, no mesmo ano em que adotou uma menina de 13 anos com a qual tinha um bom relacionamento. Schreber ainda mantinha a convicção que era uma mulher com seios e atributos femininos.


1.5 Terceira doença /internação
      
Ocorreu entre 27 de novembro de 1907 a 14 de abril de 1911. Em novembro de 1907 a mulher de Schreber sofre um derrame cerebral que se transformou em uma afasia, a qual durou quatro dias. No início de novembro de 1907 Schreber foi procurado por representantes de um grupo para legalizar a associação Schreber, que eram um grupo que almejava utilizar as ideias do pai de Schreber e solicitaram para tanto que ele reconhecesse a legitimidade de tais associações, prevenindo assim o uso ilegítimo das mesmas. Neste mesmo ano sua mãe faleceu e Schreber reage mal ao ocorrido, voltando a ouvir vozes, sentir angústia, crises de insônia, causas que o levaram para a terceira internação no Sanatório de Dosen. O fato é que o jurista foi hospitalizado num estado psíquico considerado gravíssimo, passa maior parte do tempo deitado, com uma postura rígida, com os olhos fechados como quem escuta, intencionalmente suja-se com urina e fezes, começa a imitar ruídos como “há-há-há”, passa a comer pouco, alega que não tem estômago. Em 1909 seu estado se agrava impossibilitando-o de locomover-se por fim, em 14 de abril de 1911 com sintomas de insuficiência cardíaca Schreber morre aos 51 anos.
Daniel Paul Schreber passou treze anos de sua vida em sanatórios psiquiátricos, terminando seus dias demenciado e internado. Ele não correspondeu ao modelo que seu pai possuía de cidadão ilustre. Entretanto, ele atingiu a imortalidade que os Schreber sempre requisitaram (CARONE, 1995).  
       

1.6 Freud e o caso Schreber
         
Corpo como objeto de satisfação e amor, constituindo o estágio narcísico do desenvolvimento da libido e o interesse por alguém com genitais semelhantes, uma escolha homossexual. Só depois, a libido voltaria para alguém com diferentes genitais, a escolha heterossexual de objeto.
Os delírios seriam as diversas possibilidades da proposição conflitiva, o impulso homossexual-narcísico-reprimido, porque não foi passado de forma plena, a libido em grande intensidade e que não encontra onde desaguar, pode torna-se uma sexualização de instintos de ordem social perdendo toda a sublimação conseguida. Delírio de perseguição: O juiz Daniel Paul Schreber, publica em 1903 “Memórias de Um Doente de Nervos. Mas só em 1910 é que Freud lê e publica o texto intitulado “Notas psicanalíticas sobre um relato de um caso de paranoia (Dementia paranoides) ”, que amplia os debates entre psiquiatras, afirmando que a quem é acometido pela paranoia só relata o que quer não sendo possível fazer modificar as suas resistências interiores.
Segundo a interpretação de Freud, e que só foi possível, compreendendo as principais partes dos delírios de Schreber que apresentava um quadro de paranoia. Que o levava a um desejo de transforma-se em mulher que relacionado ao papel redentor cujo o delírio de sofrer abuso sexual evolui para um delírio sexual de perseguição transformando-se em delírio místico (religioso) de grandeza, porém, ele só alcança relativa tranquilidade e a diminuição dos delírios de perseguição quando aceita a emasculação como forma de realizar o desejo homossexual reprimido, e assumindo as consequências. Para Schreber a emasculação tem uma ligação com os nervos de Deus e que havia incorporado “nervos femininos” e uma nova raça se originaria e seria fecundada por Deus. A impossibilidade de procriar foi o desencadeador do quadro mental (delirante).
As características observadas por Freud nos seres masculinos são as desconsiderações sociais e que trazem elementos homossexuais instaurados na vida emocional do indivíduo, e as humilhações. A paranoia quando analisada percebe-se que sempre está calcada em desejos eróticos sensuais.
Freud acredita que houve um processo de transferência (sentimentos que são transferidos para uma pessoa que representa um importante papel na vida do indivíduo), no início do relacionamento com Flechsing, mas na verdade Freud completa esta interpretação afirmando que o médico estaria representado nas figuras do pai e do irmão de Schreber e que “apesar de” delírios, alucinações, havia métodos na loucura de Schreber, cujos pontos relevantes seriam os nervos, o estado de beatitude, a hierarquia divina e os atributos de Deus.
Schreber luta para livrar-se desesperadamente da fantasia inconsciente do desejo homossexual passivo, na fase inicial da enfermidade, e a psicanálise explica a função do desejo homossexual relacionado à paranoia.
O perseguidor estaria representado por uma pessoa que teria sido muito significativa na vida do paciente e a intensidade da relação projetada com poder externo, transformando a relação em oposto, amor em ódio, justificado pela perseguição.
A proposta de Freud quanto ao mecanismo da paranoia, no caso Schreber, trata do complexo paterno, presente em todas as enfermidades mentais. Ele introduz a noção de narcisismo, antes mesmo de desenvolvê-la, conceituando as pulsões sexuais e denominou de estágio auto erótico da libido, a relação com o pai de certa maneira positiva determinou a possibilidade delirante. A regressão teve como o ponto de fixação o narcisismo num primeiro momento o próprio amor que se transforma em ódio, vice e versa (explica o porquê da perseguição) a repressão age afastando a libido das pessoas e coisas que antes eram amadas; Erotomania (delírio de ser constantemente assediado por alguém do sexo oposto); Delírio de ciúmes em mulheres; Megalomania (amor a si mesmo).
A fantasia de fim do mundo que Schreber apresentava era uma projeção para o mundo externo de uma catástrofe interna, por não ser suportável e a reconstrução do mundo ocorria através de delírios, é na realidade uma tentativa de cura, um processo de reconstrução. Mas a paranoia ainda precisava de mais estudos, caso a caso, para não ser confundido com outras tantas patologias.



CONCLUSÃO
                       
       O caso Schreber, é um dos casos mais conhecidos da psicanálise. Sendo um dos casos clínico o mais curioso e cheio de nuances. Após o próprio Paul Schreber escrever a sua história, Freud teve a iniciativa de estudá-lo, sempre sendo esclarecido o fato por não ter acompanhado o caso, se baseou nas próprias palavras de Schreber, sem alterar ou acrescentar nada, apenas seguindo a linha de tradução original. Ás pesquisas feitas que se encontra sobre o caso Schreber, mostra vários estudiosos que se aventurarem nas nuances do caso mais complexo de todos os tempos, mesmo após mais de 100 anos do ocorrido.
A psicanálise surge da instigante inquietação de Freud em relação ao corpo, e torna-se um elemento fundamental para o entendimento do psiquismo humano, o caso Schreber, trouxe importantes contribuições acerca da temática, contribuindo para reafirmar, ampliar e modificar conceitos, sendo fonte inesgotável de análise nos estudos psicanalíticos e ainda hoje em pesquisas que se especializaram sobre o corpo.
O tema levanta muitas controvérsias dos sintomas descritos, levando a muitos estudiosos a tentar conhecer mais sobre a história do tão famoso presidente jurista, que faze-nos acreditar que rejeita novas percepções do mundo externo e cria um mundo interno para atender os seus desejos inconscientes e a teoria da libido o leva a uma afirmação famosa: “Fica para o futuro decidir se há mais delírio de Schreber do que estamos preparados para acreditar”.


         REFERÊNCIAS

CARONE, M. Da loucura de prestígio ao prestígio da loucura. In: SCHREBER, D.P. Memórias de um doente dos nervos. 3. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1995. 

COUTINHO, Alberto Henrique Soares de Azeredo. Schreber e as psicoses na psiquiatria e na psicanálise: uma breve leitura. Reverso, Belo Horizonte, v. 27, n. 52, p. 51-61, set.  2005.  
Disponívelem:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.Php?Script=sci_arttext&pid=S0102-73952005000100008&lng=pt&nrm=ISO>. Acessos em 29 mar.  2016.
Disponível em: www.apsicanalise.com/index.php/blog.../48.../402-daniel-paul-schreber

FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996(1911). Vol. XXI, p. 21-89.
   
MATTOS, J. Schreber: um corpo-mulher para um pai. In: O corpo da psicanálise. Publicação da Escola Letra Freudiana. Ano XIX, n. 27. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000, p. 153-162

SCHREBER, Daniel Paul. Memórias de um doente dos nervos. São Paulo: Paz     e Terra, 1984


CONFLITOS PSÍQUICOS NA TEORIA DE FREUD.


          CONFLITOS PSÍQUICOS NA TEORIA DE FREUD.




RECALQUE: A PEDRA ANGULAR DE FREUD.




RECALQUE: A PEDRA ANGULAR DE FREUD.


Fernandes, A; Macedo,K; Nascimento,E.C; Nascimento,G; Oliveira,D;




RESUMO
   

Os autores explicam como foi o surgimento do termo recalque e da sua importância na construção da psicanálise como ciência, demonstra à divisão do recalque no inconsciente e como afeta a vida do individuo. Este artigo consiste numa revisão em torno dos conceitos de "inconsciente" e "consciente", a partir dos pontos de vista da psicanálise, privilegiando momentos iniciais da obra freudiana no sentido de apontar a sua descoberta por Freud. O artigo também mostra as mudanças na técnica terapêutica, que levou Freud a abandonar a hipnose, para introduzir o conceito do recalque e o mesmo sendo dividido em três momentos, onde é proposto que o recalque não é apenas um mecanismo de defesa, mais sim a peça fundamental onde se consiste toda a estrutura da psicanálise.



INTRODUÇÃO


O mecanismo do recalque é uma edificação teórica de principal importância tanto na compreensão da teoria freudiana quando em sua utilização na clínica. Freud bem antes de 1915 ao estudar as histerias utilizando hipnose já se deparava com fenômenos clínicos de resistência. Representações que suas pacientes lutavam em torná-las conscientes, representações recalcadas. Levando-nos a tentar entender porque o recalque foi peça fundamental para a construção da psicanálise e esse termo ainda é tão usado nos dias de hoje. Suas primeiras menções a este conceito foi publicada em seu texto comunicação preliminar de Breuer e Freud. Entendemos que o mecanismo do recalque dá ao analista uma estrutura teórica que permite entender determinados fenômenos clínicos e direcionar o melhor caminho para o entender esse fenômeno na terapia. Para isto iremos ver o seguinte caminho: Inicialmente será abordada a questão do recalque na obra freudiana. Em seguida vamos explicar o conceito de recalque primário ou originário, recalque secundário ou propriamente dito e retorno do recalcado.



DESENVOLVIMENTO


Em 1914, Freud aponta para a importância desse conceito a alegar o seguinte:
A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer à hipnose. (FREUD, 1914, p. 26).
O recalcamento é o mecanismo de defesa mais antigo, e o mais importante; foi descrito por Freud desde 1895.  Está totalmente ligado a noção de inconsciente e é um processo através do qual se exclui da consciência partes inteiras da vida afetiva e relacional profunda. Trata-se de um processo que mira manter no inconsciente todas as ideias e representações das pulsões cuja relação produtora de prazer comprometeria o equilíbrio psicológico do indivíduo transformando-se em uma fonte de desprazer. O recalque é uma barreira na qual uma pulsão que prejudicaria a estabilidade psicológica, bate e volta. Esse movimento é contínuo e diversas das nossas atitudes é espelho do recalque. “Re” quer dizer ir de novo. “Calcar” é a marca que fica no inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma forma de fuga de conteúdos internos que ameaçariam o ego. Desta forma, permanecem no inconsciente, no entanto, não sem causar consequências e definir comportamentos e atitudes. Pelo contrário, quanto maior a luta entre o conteúdo reprimido que deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter o ameaçador fora, mais se abrigam consequências negativas na rota da vida do sujeito. Ademais, trata-se de uma força sucessiva de pressão que rouba muito da energia psíquica da pessoa.
Podemos situar o recalque como um dos mecanismos de defesa, ou melhor, como um dos momentos da intervenção preventiva, que está presente em muitas neuroses. Sob seu aspecto totalmente funcional, o recalcamento é indispensável à facilitação da existência continua e não provoca sempre uma soberba doentia. Quando entra em cena de maneira patológica trata-se de organizações neuróticas ou sistemas defensivos de modo neurótico. (BERGERET, 2006)
As sessões de análise são capazes de acalmar aos poucos conflitos naturais de conteúdos recalcados. Trabalha-se em busca de revelação do recalcado tendo como guia o discurso do paciente. Rastreando a narrativa da história objetiva-se conferir saber ao sujeito na liberação do conteúdo recalcado que então, se integra na cadeia consciente.
O processo de manter o que foi recusado longe da consciência muitas vezes falha, pois o conteúdo recalcado volta, ainda que com outro aspecto. Assim, a luta psíquica entre o consciente e o inconsciente resulta na volta do recalcado. Essa volta surge sob forma de camuflagem - sintomas. Essa camuflagem do recalcado é conhecida como sintoma neurótico. O que outrora provocou satisfação é retirado da consciência e substituído por um sintoma. Então, a mesma satisfação passa, a partir da mudança do que foi tirado do sintoma. Na experiência do tratamento trata-se de revelação através da interpretação porque o inconsciente só se manifesta pela via da alteração, da distorção e da transposição.
Tanto como o ato de falar sobre o sofrimento promover certo alívio, durante o tratamento o desejo inconsciente tem a possibilidade de ir aparecendo. Temos então, que é um dos efeitos de uma psicoterapia psicanalítica o desaparecimento de sintomas que causam tanto sofrimento através da substituição do recalque camuflado em sintoma por saber do desejo inconsciente. Para, além disso, o fechamento dos sintomas é consequência e não objetivo direto e por isso afirma-se que o tratamento aumenta a cura do sintoma com o objetivo do reconhecimento do desejo. Freud diz que o recalque não é um mecanismo de defesa presente desde o início; só pode surgir quando tiver ocorrido uma divergência marcante entre a atividade mental consciente e a inconsciente. E que antes da organização mental obter essa fase a tarefa de afastar os impulsos pulsionais cabia a outras alternativas, as quais as pulsões podem estar sujeitas. Bergeret (2006) define o recalcamento como um processo ativo, destinado a arquivar fora da consciência às representações inaceitáveis.
A divisão feita em 1915 discrimina três fases do recalque: A fixação, o recalque propriamente dito e o retorno do recalcado.



1.1 A FIXAÇÃO OU RECALQUE PRIMÁRIO


Freud desconfia da existência de um primeiro momento do recalque, portanto, "que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional)” da pulsão. (FREUD, 1915, p.171). Com essa primeira parte do recalque há uma fixação, em função da qual o representante psíquico continua inalterado e ligado à pulsão.

É o resto de uma época arcaica, individual ou coletiva, em que toda representação incômoda (imagens da cena primitiva, de ameaças à vida ou seduções pelo adulto) se encontrava automática e imediatamente recalcada, sem ter-se tornado consciente; é o polo atrativo a seguir, os pontos de fixação dos recalcados ulteriores relacionando-se aos mesmos gêneros de representações. (BERGERET, 2006, pág. 99).
Antes de serem formados os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente, certas experiências cujo significado não existe para o sujeito são inscritas no inconsciente e têm seu acesso à consciência fechado a partir de então. Essas inscrições vão funcionar como o recalcado original (Urverdragngung) que servirá de polo de atração para o recalcamento propriamente dito (Nachdangen). Para Freud esse “recalque primevo” consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico da pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação.
Características da 1ª Fase – Recalque primário: Uma primeira fase de repressão, que consiste em negar a entrada no consciente da ideia. Com isso, estabelece-se uma fixação no inconsciente; a partir de então, a ideia continua inalterada, e o instinto permanece ligado a ele. Isso se deve às propriedades dos processos inconscientes. Responsável por manter ideias recalcadas no inconsciente, que nunca chegarão ao consciente. A fixação condiciona e precede todo o recalque.


1.2 RECALCAMENTO SECUNDÁRIO (OU RECALCAMENTO PROPRIAMENTE DITO)


Consiste em um duplo movimento de atração pelas fixações do recalcamento primário e de repulsão pelas causas proibidoras: superego (o ego, se tonara aliado do superego causando assim as proibições) (BERGERET, 2006). Segundo Freud (1915) o recalque propriamente dito afeta os derivados mentais do representante recalcado, ou sucessões de pensamento que, originando-se em outra parte, tenham entrado em ligação associativa com ego. Roza (2005) diz que o que ocorre no recalcamento originário não é nem um investimento por parte do inconsciente, nem um desinvestimento por parte do pré-consciente/consciente, mas um contra investimento.
No caso, a noção de contra investimento está sendo utilizada para designar uma defesa contra um excesso de excitação proveniente do exterior, capaz de romper o escudo protetor contra os estímulos. (ROZA, 2005, pág. 161).
Características da 2ª Fase – A segunda fase da repressão são duas forças que atuam no recalque propriamente dito: repulsão que atua a partir do consciente sobre oque deve ser recalcado, e a atração exercida pelo que foi primeiramente repelido sobre tudo aquilo que possa estabelecer uma ligação. Por causa dessa associação, essas ideias sofrem o mesmo destino daquilo que     foi primeiramente reprimido. Essas ideias que entram em conflito com o consciente serão recalcadas para o inconsciente.
      


1.3 RETORNO DO RECALQUE


Sabe-se, no entanto, que o recalque, em geral, "deixa sintomas em seu rastro". (FREUD, 1915, p. 177). Tanto as formações substitutivas como os sintomas são indicações de um retorno do recalcado e são criados por métodos diferentes ao recalque. Este seria, enfim, o terceiro momento do recalque, ou seja, a volta do recalcado, que busca ainda realizar as exigências da pulsão. Nesse sentido, o recalque, nesse terceiro momento, pode ser entendido com um permanente gasto de força: enquanto o recalcado, através dos seus derivados, "exerce uma pressão contínua em direção ao consciente", continua havendo uma "contrapressão incessante", que parte de um interesse superior, ou seja, a consciência. (FREUD, 1915, p. 174-175)O retorno do recalcado pode incidir ou em uma simples “escapada” do processo de recalcamento (sonho, fantasias), ou em uma forma às vezes sem importância (lapsos, atos falhos), ou, ainda, em manifestações patológicas de fracasso real do recalcamento (sintomas). (BERGERET, 2006). O recalcamento não organiza essas formações.
Fenichel (2005) define o recalque como esquecimento inconsciente intencional, os quais, via de regra, representa possíveis tentações ou castigos de exigências recrimináveis da pulsão , quando não meras citações a estas, aponta ainda que há casos em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões referentes, o significado, o valor emocional são reprimidos. Não tem como determinar qual o grau de distorção e de distancia no tempo necessário para a exclusão da resistência por parte do consciente. E, via de regra, o recalque só é removido por um tempo, reinstalando-se imediatamente. Freud esclarece que o processo de recalcamento é altamente individual, o recalque não é um fato que acontece uma vez, produzindo resultados permanentes; ele exige um consumo persistente de força, e se esta viesse a cessar, o sucesso do recalque correria perigo, tornando necessário um novo recalque.


Características da 3ª Fase – Retorno do recalcado consiste no fracasso do recalque. Através de interferências (terapia) pode ocorrer o retorno do recalcado. O que se apresenta no corpo se representa na mente. Na consciência eles surgem quando há uma afrouxamento do recalque sob forma de: sonhos, atos falhos, chistes (momento de falar o que verdadeiramente acha, mas em tom de brincadeira). E no corpo aparece como: Angustia, ansiedade, tristeza, supressão (quando desaparece da consciência e vai para o corpo).





CONCLUSÃO


Concluímos com esse texto, que o recalque é um processo ativo onde a pessoa tenta manter o nível do consciente (ego) em equilíbrio, afastando do mesmo as emoções, desejos e lembranças que o ego entende como negativas ou obscuras e que tragam alguma dor ao individuo, assim o superego faz suas proibições, fazendo pressão em cima do ego, causando grande desconforto ao individuo, ou seja, é uma defesa imposta pelo o ego que com o tempo, por causa dessa pressão eles vêm a aparecem na forma de (sonhos, fantasias) ou em formas às vezes sem importâncias (lapsos, ato falhos) ou ainda em manifestações patológicas (sintomas), causando assim o retorno do recalque.


REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA


FREUD, S. - O inconsciente [1915] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

FREUD, S. - A história do movimento psicanalítico [1914] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

BERGERET, J. et. al. Psicopatologia: teoria e clínica. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 21ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.


FENICHEL, Otto. Teoria psicanalítica das neuroses: fundamentos e bases da doutrina psicanalítica. São Paulo, 2005. Ed. Atheneu. 665 p.