ANNA O. E A CURA DE CONVERSAÇÃO
EUGENIO, J. da Silva; GONZAGA, P. de Fatima; MENDES, J. Santos; QUIRINO, R. C. Duarte; SANTOS, S. B. Araújo; SILVA, C. de Andrade; SILVA, J. Roque1.
RESUMO
Este trabalho se insere em uma pesquisa sobre o caso “Anna O.”, o caso mais conhecido na Psicanálise. Trabalho efetuado com método descritivo, onde faremos uso de referências que fornecem estudos não só da histeria, mas também da Psicanálise. Nossa função é fornecer elementos que possam contribuir na realização de pesquisas. Bertha Pappenheim (Anna O.), pseudônimo dado pelo médico Josef Breuer, nasceu em Viena em 27 de fevereiro de 1859, uma jovem de classe média alta, que aos 20 anos de idade, após a morte de seu pai demonstrava os primeiros sintomas de histeria juntamente com as tensões da infância (depressão, nervosismo, tendência ao suicídio, paralisia, perturbações visuais, contratura muscular entre outros), morreu na Alemanha em maio de 1936. Anna O. foi tratada por Breuer pelo método Catártico (a chamada cura por meio da voz) que seria o fundamento do futuro tratamento Psicanalítico. Freud generalizou a histeria como resídua e símbolos mnêmicos de experiências especiais (traumáticas), escondidos em alguma parte, no inconsciente.
Este trabalho se insere em uma pesquisa sobre o caso “Anna O.”, o caso mais conhecido na Psicanálise. Trabalho efetuado com método descritivo, onde faremos uso de referências que fornecem estudos não só da histeria, mas também da Psicanálise. Nossa função é fornecer elementos que possam contribuir na realização de pesquisas. Bertha Pappenheim (Anna O.), pseudônimo dado pelo médico Josef Breuer, nasceu em Viena em 27 de fevereiro de 1859, uma jovem de classe média alta, que aos 20 anos de idade, após a morte de seu pai demonstrava os primeiros sintomas de histeria juntamente com as tensões da infância (depressão, nervosismo, tendência ao suicídio, paralisia, perturbações visuais, contratura muscular entre outros), morreu na Alemanha em maio de 1936. Anna O. foi tratada por Breuer pelo método Catártico (a chamada cura por meio da voz) que seria o fundamento do futuro tratamento Psicanalítico. Freud generalizou a histeria como resídua e símbolos mnêmicos de experiências especiais (traumáticas), escondidos em alguma parte, no inconsciente.
PALAVRAS-CHAVES:
Psicanalise, Anna O., Histeria.
CASO "ANNA
O."
ABSTRACT: This work is part of a research
on the case "Anna O.," the best-known case in Psychoanalysis. Work
done with descriptive method, where we use references that provide studies not
only of hysteria but also of psychoanalysis. Our role is to provide elements
that can contribute in conducting research. Bertha Pappenheim (Anna O.), pen
name given by the doctor Josef Breuer, was born in Vienna on February 27, 1859,
a young upper middle class, who at 20 years old after his father's death showed
the first symptoms of hysteria with childhood stress (depression, nervousness,
tendency to suicide, paralysis, visual disturbances, muscle contracture among others),
died in Germany in May 1936. Anna O. was treated by Breuer by Cathartic method
(called curing through the voice) that would be the foundation of future
Psychoanalytic treatment. Freud generalized hysteria as residues and mnemonic
symbols of special experiences (traumatic), hidden somewhere in the
unconscious.
KEYWORDS: Psychoanalysis, Anna O.,
Hysteria.
INTRODUÇÃO
Por
inúmeros motivos, entre os quais inclui a confidencialidade, psiquiatria e a
psicologia sempre se valeram de casos clínicos clássicos para se estudar
diferentes questões. Portanto, não só todos os casos publicados por Freud
ficaram famosos e sofrem constantes revisões, como outros que estudaram pessoas
ilustres, com biografia conhecida, como foi o caso de Van Gogh, Proust, Hemingway
e Hitler.
Anna
O. foi o codinome que Breuer deu à paciente que tratou de 1880 a 1882, em
Viena. Alguns anos depois escreveu seu famoso trabalho em coautoria com Freud,
e desde então todas as gerações de psicanalistas incluem o exame deste caso no
estudo que fazem sobre histeria, reconhecendo que o mesmo está inscrito na
pré-história da psicologia, sobretudo a psicanalítica.
Em
1953 Breuer revelou o verdadeiro nome da paciente: Bertha Pappenheim e desde
então uma série de dados biográficos tem sido publicado por diversos autores,
entre os quais se destacam Pollock (1968), Ellemberger (1970,1972), Freeman
(1972), Schur (1972), Hirsmüller (1978), Thornton (1983), Rosenbaum (1984), e
Jacobsen (1996). O presente trabalho tem por objetivo demonstrar que em posse
destes “novos” dados, é possível fazer um novo exame do caso, o que nos levará
a concluir que uma boa parte dos sintomas atribuídos nele à histeria poderia
ser muito bem percebida como sintomas de dependência/abstinência de morfina.
Uma história que será desembaraçada com o decorrer da leitura.
ANNA O.
Segundo
Borch-Jacobse (1996), ela nasceu em 27 de fevereiro de 1859 em Viena na
Áustria. Seu pai, Siegmund Pappenheim, tinha herdado uma empresa de comércio de
grãos e foi considerado na época um homem milionário e sua mãe, Recha
Goldschmidt, veio de uma família Frankfurt velha que contou entre os seus
membros o poeta Heinrich Heine. Os Pappenheims eram estritamente ortodoxos já
que eram descendentes de judeus e Bertha recebeu uma educação de acordo com sua
descendência, era uma menina da classe média alta, religiosa, falava línguas
estrangeiras (inglês, francês, italiano), fazia tapeçaria, tocava piano, e
passeios a cavalo. Bertha era uma jovem animada e muito enérgica de
personalidade sensível, tinha por volta de 20 anos de idade, quando apareceram
os primeiros sintomas no outono de 1880, numa altura em que Bertha olhou após
seu pai, que tinha caído doente com uma pleurisia que viria a revelar-se fatal,
juntamente com as tensões da infância, foram as responsáveis pelo desencadear
de seu quadro de Histeria, marcado por sintomas como depressão, nervosismo,
tendência ao suicídio, paralisia, perturbações visuais, contraturas musculares
e outros, e que a deixavam praticamente inválida.
Foi
então, levada ao médico Josef Breuer, pertencente à elite de cientistas vienenses
da época, sendo por ele tratada de 1880 a 1882. Segundo Soriano (2010), Bertha
Pappenheim teve um papel muito importante no desenvolvimento do método que
Breuer denominou catarses, e que viria ser o fundamento do futuro tratamento
psicanalítico. Após várias internações, em decorrência do agravamento dos
sintomas da doença, e em razão da dependência em morfina, começou a dedicar-se
ao trabalho social em prol da dignidade da mulher judia, foi uma das maiores
feministas de seu tempo.
Morreu
em Iselberg, na Alemanha, em 28 de maio de 1936 com aproximadamente 77 anos de
idade, sendo assim, seu caso ficou mais conhecido como Anna O, que foi muito
importante para a psicanálise, pois, utilizava o método catártico, a chamada
cura por meio da conversa, que mais tarde viria a figurar com destaque em seus
trabalhos.
PRINCIPAIS SINTOMAS DA HISTERIA NO CASO DE ANNA O.
Segundo
Freud (1895), a paciente Anna O. durante determinado tempo da doença de seu
pai, em Julho de 1880, começou a mostrar os indícios de que sua própria saúde
tinha sido afetada, fato que a obrigou a afastar-se de cuidar de seu pai, o que
talvez tenha contribuído para sua piora ao apresentar os sintomas, visto o
grande apego que ela tinha por ele. Anna começou a apresentar uma tosse acentuada
e logo após, em dezembro de 1880, apresentou estrabismo.
Segundo
Freud (1895), após cair de cama, surgiu em Anna O. uma serie de perturbações
graves, como dor de cabeça occipital esquerda, afecção do nervo oblíquo,
perturbações na visão paralisia dos membros entre outros. Haviam dois estados
distintos que se alternava frequentemente: num dos estados ela reconhecia o
ambiente onde estava, no outro era agressiva, e tinha alucinações, jogava
travesseiros, arrancava os botões das roupas com os dedos que ela conseguia
mover. Após jogar os travesseiros acusava as pessoas de estarem fazendo algo
contra ela e de a deixarem num estado de confusão.
Freud
(1895) diz que a paciente apresentava alterações no humor, alternando entre um
estado de melancolia intensa e grande excitação. Passou a ter tendências
suicidas, o que fez sua família decidir mudá-la de casa, visto que moravam em
um terceiro andar, então ela foi para casa de campo que iria ficar no térreo.
Essa mudança despertava em Anna O. intenso medo, e quando enfim ocorreu, ela
passou a ficar mais tranquila, mas logo em seguida, Anna recusava-se a comer e
não conseguia dormir, mas como passava a maior parte do tempo no jardim, suas
tentativas de suicídio não seria tão perigosos do que se continuasse no
terceiro andar. Outro sintoma notável era a repugnância que sentia dos
alimentos e mesmo quando sentia muita sede, não queria beber água. Perdeu o
domínio da gramática e posteriormente da sua língua materna e se comunicava
falando em idiomas diferentes. Por semanas, ela ficou muda por completo.
De
certa forma, tudo do que acontecia com Anna parecia estar relacionada a toda
doação de si mesma ao período que cuidou de seu pai. De acordo com Freud
(1895), ela tinha uma necessidade de repousar durante as tardes, devido ao
hábito de ficar acordada à noite, velando o enfermo até o amanhecer. Esse
costume foi levado até a sua própria doença, e esse sono era seguido por uma
condição de intensa excitação. Anna O. teve alucinações assustadoras com cobras
negras, e essa era a maneira como ela via seus cabelos, fitas e coisas
semelhantes. O fato era que em certo dia, enquanto estava com o pai, com o
braço por cima da cadeira ela viu uma cobra negra se aproximando e para
defendê-lo, ela tentou manter a cobra distante, mas não conseguia, pois seu
braço estava paralisado, por estar em uma posição que o fazia ficar dormente. A
partir daí, a paciente remanejou esse fato a quando apresentou os sintomas da
histeria, pois, como mencionado, ela teve paralisia nos braços e quanto à perda
da fala em sua língua materna, está associado a quando ela conseguiu livrar-se
da cobra, foi rezar, e não encontrava palavras em sua língua, lembrou de uma
reza em inglês e passou a recitá-la. Esses são alguns exemplos dos sintomas
apresentados por Anna O. enquanto esteve doente e cuidada pelo Dr. Breuer por
quase dois anos.
O TRATAMENTO COM BREUER
O
Dr. Josef Breuer consultou a paciente pela primeira vez quando ela apresentou
uma intensa tosse, que foi reconhecida pelo Dr. Breuer como uma tussis nervosa
típica (FREUD, 1895). Então, quando ela começou a apresentar os demais
sintomas, como a contratura nos membros, estrabismo, dentre outros, o qual já
foi abordado aqui, o Dr. Breuer começou a tratá-la sabendo do grave abalo
psíquico que iria enfrentar. Enquanto Anna O. morava em Viena, o Dr. Breuer a
visitava diariamente e ao perceber que a enferma tinha grande sono a tarde
seguida de grande excitação depois disso, passou a usar a hipnose como
tratamento de seus sintomas nesse horário. Era feito da seguinte forma: A
paciente era hipnotizada e durante a sessão ela dizia todas suas alucinações
que ocorria durante o dia. Foi observado que quando Anna conseguia trazer a
tona todos os acontecimentos que a incomodava durante o dia, ela conseguia ficar
tranquila e consciente durante a noite, e quando não ocorria, ela ficava
agitada com acentuadas mudanças de humor.
De
acordo com Freud (1895), essas neuroses já tinham sido observadas por Breuer
antes dela cair de cama. Anna O. se sentiu extremamente ofendida com algo do
seu passado e tomara a decisão de não falar a respeito. Após descobrir que Anna
O. se sentia assim, Breuer obrigou-a a falar.
Segundo
Freud (1910), no estado de absence (alteração da personalidade acompanhada de
confusão), a paciente Anna O. murmurava as palavras que ocupavam o pensamento.
Breuer a colocava no estado de hipnose e repetia por várias vezes para associar
ideias, então, a paciente reproduzia as alucinações que a dominava no estado de
absence através do método hipnótico. Anna O. voltava a sua lucidez através do
método de hipnose e tornava-se uma jovem sã, e no dia seguinte voltava a ser a
jovem histérica. A própria Anna O. deu o nome ao tratamento de `talking cure’
(cura de conversação) qualificando-o também, por gracejo, de `chimney sweeping’
(limpeza da chaminé).
Freud
(1910) generalizou os histéricos, falando que eles sofrem de reminiscências.
Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais
(traumáticas). Esses fatos que causavam o trauma ficavam de certa forma
escondidos em alguma parte dela, a saber, pelos posteriores estudos de Freud, o
inconsciente. Ao ser hipnotizada, o médico conseguia trazer a tona, por meio da
fala, o fato ocorrido, fazendo com que a paciente se livrasse daquilo que
estava a perturbando.
As
emoções de Anna O. de acordo com os relatos que Breuer contava para Freud era o
que regulava a doença e a cura.
Em
parte ficavam estas como carga contínua da vida psíquica e fonte permanente de
excitação para a mesma; em parte se desviavam para insólitas inervações e
inibições somáticas, que se apresentavam como os sintomas físicos do caso. Para
este último mecanismo propusemos o nome de `conversão histérica’. Demais, uma
certa parte de nossas excitações psíquicas é conduzida normalmente para a
inervação somática, constituindo aquilo que conhecemos por `expressão das
emoções’. A conversão histérica exagera então essa parte da descarga de um
processo mental catexizado emocionalmente; ela representa uma expressão mais
intensa das emoções, conduzida por nova via. (FREUD, 1910, Pág. 13).
Segundo
Gomes e Neto (2006), diz que a partir do seu tratamento com Breuer Anna O.
substituiu o lugar do seu pai, tornando Breuer seu parceiro em uma reparação
maníaca simbólica, a partir do desenvolvimento da transferência2. Assim Breuer
além de ser seu psicanalista também era, em suas fantasias, seu parceiro e
amante. Anna O. também teve uma gravidez imaginaria devido a essa
transferência. Devido a isso Breuer passou a ter problemas no casamento e se
afastar do caso dois anos depois.
CONCLUSÃO
A
partir do caso “Anna O.” pode observar os sintomas provocados pela Histeria,
onde Breuer desenvolveu o método catártico para o seu tratamento. Após um
tempo, ele resolveu utilizar também a hipnose, ao perceber que provocava uma
excitação em “Anna O.” e assim ela revelava suas alucinações que eram
carregadas de afeto, aos quais os sintomas histéricos apareciam e da mesma
forma eles desapareciam.
Freud
afirmava que, por meio da hipnose, os processos psíquicos represados no
inconsciente acabavam encontrando uma porta de saída no corpo, fazendo com que
a paciente se livrasse daquilo que a estava perturbando.
Segundo
Mintzberg, após a cura, “Anna O.” tornou-se a primeira assistente social e
feminista alemã, onde lutava pela educação feminina, e também traduziu obras e
publicou artigos.
REFERÊNCIAS
BORCH-JACOBSEN,
MIKKEL. Lembrando Anna O. Um Século de mistificação. New York, Routledge,1996.
FREUD,
Sigmund. Estudos sobre a histeria Josef Breuer e Sigmund Freud. 1891. vol II,
(1893-1895). ed. Standard Brasileira.
FREUD,
Sigmund. Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos,
vol. XI (1909-1910). Traduzido por: MARCONDES, Durval; CORRÊ, J. Barbosa.
Editora Nacional. 1931.
GOMES,
F. G. C; NETO, G. A. R. M. Transferência e contratransferência no discurso
psicanalítico pós-freudiano sobre a histeria. Cesumar, 2006.
MINTZBERG,
L. Lerner. O caso “Anna O”. Da Teoria. Disponível em:> http://www.lenalerner.com.br/textos/oCasoAnnaO.pdf.
Acesso em:> 31 de março de 2016.
SORIANO,
M. I.; GIORGION, M.; BALLIS, T. F. Notórios da psicanálise: Anna O. Revista
Vórtice de Psicanálise. 2010. Disponível em:>
http://www.revistavortice.com.br/2010/12/notorios-da-psicanalise-anna-o.html.
Acesso em:> 31 de março de 2016.
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