"Conceito
Psicanalítico Freudiano"
Filho, Antônio Batista de Araújo. Costa, Amanda
Pessoa Bandeira. Silva, Jaciane Soares. Araújo, Maria Juliana Barbosa. Gomes,
Inglidy Tainar da Silva. Santos, Joelio Manoel Cruz. Silva, Vanessa Morgana
Pereira (vanapb2@gmail.com)
RESUMO
A Sexualidade é assunto complexo, controvertido e de
conceituação difícil. Tem sido alvo de tabus, repressões, distorções e
tentativas de reduzi-la a sinônimo de genitalidade e de reprodução. Serve para
dar vazão a sentimentos elevados como o amor embora permita também que outros,
como a agressividade e a violência, possam manifestar-se por meio dela. Sua
conceituação depende do ponto de vista considerado: o psicológico, o
antropológico, etc. Dessa forma, o
presente trabalho tem como proposta investigar e refletir, sob um viés
psicanalítico freudiano, acerca do que é sexualidade, qual sua importância na
constituição do psiquismo e o porquê de “tudo
é sexo para psicanálise”.
Palavras-chave:
Sexualidade, Psicanálise, Freud.
DESENVOLVIMENTO
Ainda hoje, é impossível discutir
sexualidade sem esbarrar em barreiras morais, sociais, religiosas e até mesmo
teóricas. Mesmo dentro da Psicologia, o tema sexualidade continua causando
fortes polêmicas. A Psicanálise, por exemplo, torna-se alvo de duras críticas
por “dar ênfase demais à sexualidade”, ou por senso comum, “tudo ser sexo”. De
fato para a Psicanálise, a sexualidade é a chave para a compreensão do
comportamento e da mente humana. No entanto, essa é considerada como muito mais
abrangente, não necessariamente uma sexualidade baseada nos órgãos genitais, de
caráter instintivo ou com fins reprodutores, por exemplo, mas muito pelo
contrário, trata-se de uma sexualidade pulsional. Freud (1901-1905) desenvolveu a teoria
da sexualidade infantil, durante tratamentos clínicos em seu consultório, nos
quais observou transtornos psicológicos apresentados por seus pacientes já
adultos. Ele buscava tratar os distúrbios de histeria. Neste sentido, pode-se
perceber que a criança não foi o ponto de partida, nem tão pouco o desejo de
estudo de Freud, mas a busca por solucionar os problemas emocionais
apresentados por seus pacientes. No entanto, Freud
apresentou dificuldades em definir o que seria sexual, talvez por causa da
época em que vivia, a qual tudo que se referia ao tema era considerado como
impróprio e não deveria ser debatido ou investigado. Em uma conferência a
respeito da sexualidade Freud veio a afirmar:
[...]
Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de ‘sexual’.
Talvez a única definição acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a
distinção entre os dois sexos’. [...] Se tomarem o fato do ato sexual como
ponto central, talvez definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a
obter prazer, diz respeito ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma
pessoa do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união dos genitais e
à realização do ato sexual. [...] Se, por outro lado, tomarem a função de
reprodução como núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda uma série
de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a
masturbação, e até mesmo o beijo (FREUD, 1901-1905, p. 309).
Para a Sexologia, tudo que fugisse da junção entre o macho
e a fêmea, e que não estivesse, portanto, submetido ao ato reprodutivo ou um
fim biológico, era tido como uma espécie de desvio, sendo pequeno ou grande
desvio. Freud fala sobre esses desvios ao apresentar-nos a ideia de perversão
polimorfa. Ele vai dizer que aquelas práticas que estão presentes nos chamados
perversos, por exemplo, uma prática que vai enfatizar muito o olhar, um cheiro,
um tom de voz, podem ser estranhas, mas elas têm muito a dizer sobre o que se passa
no sujeito.
Freud ao escutar seus pacientes vai construindo a
Psicanálise a partir dos relatos que eles têm a dizer sobre eles próprios, portanto vê um cenário totalmente diferente, o qual será sustentado
não pelo biológico, ou instinto, mas por um conceito fundamental para a
Psicanálise, o conceito de Pulsão [Trieb]. Pulsão é um conceito
totalmente diferente de instinto, funciona em outra lógica, até mesmo na
contramão do instinto. Freud (1916) define pulsão
como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o
representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo dentro do
organismo que alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no
sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.
Para entender mais sobre o conceito de sexualidade dentro de Psicanálise é necessário especificar o conceito que Freud tinha sobre a Libido. A teoria da libido apresentada por Freud no livro, “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, resume-se nesta apertada síntese:
Para entender mais sobre o conceito de sexualidade dentro de Psicanálise é necessário especificar o conceito que Freud tinha sobre a Libido. A teoria da libido apresentada por Freud no livro, “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, resume-se nesta apertada síntese:
Combinam bem com
essas hipóteses sobre a base química da excitação sexual as noções de que nos
valemos para procurar dominar as manifestações psíquicas da vida sexual.
Estabelecemos o conceito da libido como uma força quantitativamente variável
que poderia medir os processos e transformações ocorrentes no âmbito da
excitação sexual. Diferenciamos essa libido, no tocante a sua origem
particular, da energia que se supõe subjacente aos processos anímicos em geral,
e assim lhe conferimos também um caráter qualitativo. Ao separar a energia
libidinosa de outras formas de energia psíquica, damos expressão à premissa de
que os processos sexuais do organismo diferenciam-se dos processos de nutrição
por uma química especial. A análise das perversões e das psiconeuroses
levou-nos à compreensão de que essa excitação sexual é fornecida não só pelas
chamadas partes sexuais, mas por todos os órgãos do corpo (FREUD, 1901-1905, p 205).
O conceito de libido corre paralelo ao conceito de pulsão. Lacan vai dizer que a
pulsão não tem dia nem noite, não tem primavera nem outono, ela não tem subida
nem descida, ou seja, diferentemente do Instinto, que tem picos e declínio, a
pulsão é uma força constante, um impacto constante. Se considerarmos que a pulsão
sexual exerce uma Pressão permanente, a libido seria, portanto, a energia que
sustentaria essa pressão da pulsão. Ou seja, a libido seria a energia das
pulsões sexuais.
Freud toma a teoria das pulsões e a
teoria da libido como teorias quase sinônimas (LEOPOLDO, 2002). A libido está
vinculada com os tipos de investimentos que o
indivíduo realiza com seu mundo, seja ele interno ou externo.
Segundo Carvalhaes e Leopoldo (2008) “esta distinção entre a sexualidade, como
um fato, e, a libido como uma suposta energia, também caracteriza dois modos de
teorização feitos por Freud na construção da teoria psicanalítica”.
Freud vem nos mostrar que a pulsão, a sexualidade
pulsional, está também presente nas crianças. Sexualidade esta, que não
necessariamente baseada na genitalidade, na biologia do corpo, mas uma
sexualidade pulsional que pode ser observada, por exemplo, no olhar da criança,
nos gestos da criança e até mesmo na boca. É aquilo que entra e sai da boca, o
que ela escuta, o que ela vê, ou seja, é uma sexualidade que diz respeito as
trocas que esse corpo realiza com o mundo, ao que entra, ao que sai, são todos
esses elementos sensoriais que escorrem pelo corpo, que penetra por todos os
furos e buracos. Neste sentido, a criança vai ser o tempo todo impactada e
habitada pela sexualidade. Freud (1901-1905) irá dizer que para entender a sexualidade nos adultos
basta olhar a sexualidade nas crianças. Essa sexualidade que composta por
inúmeros ingredientes, e não necessariamente só os órgãos genitais e muitos menos
só a junção do macho com a fêmea.
Segundo Nunes e Silva (2000, p. 52), “a criança vive sua
sexualidade desde que nasce, no contato sexual com a mãe, com o mundo exterior
e estabelecendo sua percepção corporal em diferentes fases de sua vida”. Ou
seja, o corpo da criança é seu universo sexual, assim, a noção de corpo é
essencial para a sexualidade.
A criança nasce em um corpo despedaçado e desprovido, ainda
de uma vida mental, consequentemente de um Psiquismo.
Ela não passa de um corpo manipulável, onde a mãe se torna a dona deste corpo.
Há de fato uma fusão entre o corpo da criança com o corpo da mãe, e essa fusão
nada mais é do que sexual. Esse ‘sexual’ traduz-se na relação entre a mãe e a
criança, nos cuidados que essa mãe tem com a criança, na ternura. Freud vai
muito mais longe, pois não diz que o sexual jaz na ternura, por exemplo, mas
que a própria ternura é em si uma excitação sexual.
J.D. Nasio, em seu livro “Édipo: O Complexo do
qual Nenhuma Criança Escapa” traz
uma citação de Sigmund Freud que elucida bem essa sexualidade entre mãe e
filho, Freud diz:
As relações do filho
com sua mãe são para ele uma fonte contínua de excitação e satisfação sexual, a
qual se intensifica quanto mais ela lhe der provas de sentimentos que derivem
de sua própria vida sexual, beijá-lo, niná-lo, considerá-lo substituto de um
objeto sexual completo. Seria provável que uma mãe ficasse bastante surpresa se
lhe dissessem que assim ela desperta, com suas ternuras, a pulsão sexual do
filho. Ela acha que seus gestos demonstram um amor assexual e puro, em que a
sexualidade não desempenha papel algum, uma vez que ela evita excitar os órgãos
sexuais do filho mais que o exigido pelos cuidados corporais. Mas a pulsão
sexual, como sabemos, não é despertada apenas pela excitação da zona genital; a
ternura também pode ser muito excitante (FREUD apud NASIO, 2007, p.9).
Como
mencionado acima, a sexualidade está presente desde o momento do nascimento e
nos acompanha até a morte. Sabemos que para Psicologia, a infância é o momento
crucial que definirá a personalidade, identidade, comportamentos típicos e a
estrutura psíquica do indivíduo. Para a Psicanálise, o período da infância se
torna ainda mais crucial, já que é neste período em que o indivíduo neste caso
a criança, que ainda é uma coisa entra em contato com o mundo,
experimenta, saboreia, toca, e sente o mundo. O ser humano nasce sexuado,
e desde bebê tem início ao seu autoconhecimento, de forma natural e
espontaneamente. (Leitão, Iagor Brum. 2015)
Nota-se que esse contato com o mundo se dá de forma sensorial. Dito
isso, todas essas experiências sensoriais serão tomadas como prazerosas ou
desprazerosas, portanto é aí que entra a Sexualidade.
A primeira experiência prazerosa que a criança tem com o mundo
é na amamentação. Os lábios e a língua do bebê tornam-se uma zona erógena pela
qual, ao sugar o leite, a criança sente prazer em se alimentar e desta forma, a
sensação prazerosa fica associada à necessidade de alimento (Costa &
Oliveira, 2011). Freud descreve a presença desse prazer:
“quem já viu uma criança saciada recuar do
peito e cair no sono, com as faces coradas e um sorriso beatifico, há de dizer
a si mesmo que essa imagem persiste também como norma da expressão da
satisfação sexual em épocas posteriores da vida” (Freud, 1901-1905, p. 171).
Neste sentido, a sexualidade torna-se uma ferramenta de
contato e de experiências com o mundo. Ora, mas por enquanto estamos falando de
experiências sensoriais, e o que isto tem a ver com a constituição de um
Psiquismo?
De início, essas experiências são de fatos sensoriais, e
são primordiais para o bebê, ainda coisa,
experimentar o mundo. No entanto, a criança vai assimilando e internalizando
essas experiências como prazerosa ou desprazerosa, criando assim significados
para elas. A partir daí, em uma ligação estritamente relacional, entre o
indivíduo e mundo, a sexualidade torna-se uma porta de entrada para os
significantes produzidos nesta relação.
CONCLUSÃO
Vimos o quão extenso
e abrangente pode ser o conceito de sexualidade, e como facilmente podemos
esbarrar em barreiras morais e ideológicas, no entanto, é a partir da
Psicanálise, especificamente a partir das ideias de Freud, o tema foi ganhando
destaque e discussão. Deve-se ficar claro que ao elucidar a ideia de que, para
a Psicanálise, a sexualidade é a porta de entrada pela qual o indivíduo,
especialmente a criança, experimenta o mundo, o sente e internaliza, é a
utilização do corpo, por seus furos e buracos em contato com o mundo, sendo
cortado pela linguagem. E a partir deste contato, sexual, entre
indivíduo/mundo, desperta o psiquismo, e especificamente para a Psicanálise,
desperta a criança seu maior Desejo, que é o Desejo
de Desejo, por isso pode-se dizer sem medo algum que, para a psicanálise,
tudo é sexual.
Levando em conta
todas as considerações feitas até aqui, podemos conceituar sexualidade,
finalmente, como se segue: sexualidade é energia vital instintiva
direcionada para o prazer, passível de variações quantitativas e
qualitativas, vinculada à homeostase, à afetividade, às relações sociais,
às fases do desenvolvimento da libido infantil, ao erotismo, à
genitalidade, à relação sexual, à procriação e à sublimação.
(Bearzoti, Paulo. 1993)
REFERÊNCIAS
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caso de histeria, Três ensaios sobre sexualidade e outros Trabalhos.
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982002000100008&lng=en&tlng=pt.
10.1590/S1516-14982002000100008.
COSTA, Elis. OLIEIRA, Kênia. A Sexualidade Segundo a Teoria
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_______Conferências Introdutórias sobre Psicanálise
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Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
Volume XVI. Imago Editora. 2006. Rio de Janeiro
NASIO, J.D. (2007). Édipo:
O Complexo do Qual Nenhuma Criança Escapa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
NUNES, César. SILVA, Edna. A Educação Sexual da Criança:
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VILANOVA, Isaac. NETO, Silva. A Teria das Pulsões em Freud e
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Retirado em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/2250/1/2009_dis_IVESNeto.PDF
CARVALHAES, Binchi Diane. LEOPOLDO, Fulgencio. (2008) O Conceito da Sexualidade
Infantil em Freud: Aspectos Empíricos e Metapsicológicos. Anais do XII Encontro de
Iniciação Científica da PUC-Campinas. Campinas, SP.
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