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quarta-feira, 20 de abril de 2016

CASO SCHREBER




Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ENA8sCpj-6. Acessos em 29 de mar.2016 
CASO   SCHREBER
                     


ANDRADE, Viviane Guedes.
FIGUEIREDO, Ana Emilly Ferreira de.
SILVA, Ana Patrícia Cordeiro da.
SILVA, José Alexandre da.
SILVA, José Carlos Honorato.
RODRIGUES, Paula Ivone da Silva.



RESUMO

É importante trazer que, contrariamente a outros exemplos de Freud, o estudo sobre Schreber se realiza no testemunho de seus escritos. Freud não vivenciou esse caso clinicamente, porém a metodologia em estudo foi rigorosamente à mesma: só as palavras do paciente relatam sobre o fato; Checchinato (1988) afirmou que Freud não arriscou nenhuma interpretação que não surgisse do contraste delas na dialética viva do texto. Contudo, propomos o conhecimento do caso, tais como suas nuances e complexos, a visão de Freud para o mesmo e concluímos com a descrição do caso nos dias de hoje.

Palavras chaves: Paranoia, Neurose, Hipocondria, libido, internação.



1.INTRODUÇÃO
          
O Presente artigo trata-se do “Caso Schreber” um estudo sobre paranoia, descrevendo sobre sua vida e tópicos do tempo de doenças e internações, envolvendo os “surtos” que o mesmo desenvolvia durante essas fases como: Neurose, Psicose, Delírios, Paranóia e Hipocondria. Que estão ligados a níveis e sintomas parecidos.  A elaboração deste trabalho tenta fornecer subsídios do histórico de vida familiar, para uma melhor compreensão do caso, através de elementos que possam ser proveitosos à compreensão da realidade de algumas enfermidades, especificamente o corpo e sua relação com o psiquismo.
Em 25 de julho de 1842 nasce Daniel Paul Schreber, em Leipzig na Alemanha, filho do médico ortopedista e pedagogo, Daniel Gottlieb Moritz (1808-1861) e Louise Kenrietta Pauline Haase (1815-1907), uma família de burgueses protestantes, com uma rígida educação moral. Sabe-se que sua mãe era dominada por seu pai, uma mulher apática e deprimida.
Conforme afirma Carone (1995), o pai de Schreber se orgulhava de ter aplicado em seus próprios filhos seus métodos educacionais, dizendo que os resultados obtidos tinham sido excelentes. O que se sabe sobre a infância de Schreber é que ele se submeteu passivamente às técnicas educacionais empreendidas pelo seu pai. Pode-se considerar que ele foi um dedicado aluno, de natureza tranquila, que não demonstrava paixão em suas ações. Possuía um talento próprio que se embasava mais em uma crítica intelectual do que em atividades que requeressem o uso de sua imaginação e criatividade. Sua obra demonstra que ele possuía uma sólida e diversificada formação cultural (CARONE, 1995). 
Em 1858 o pai de Schreber sofreu um grave acidente aos 51 anos, quando uma barra de ferro caiu sobre a sua cabeça ocasionando um comprometimento em seu quadro mental e aos 53 anos morre no hospital em Leipzig vítima de obstrução intestinal, porém, acredita-se que tenha sido uma mentira apenas para disfarçar, e que na verdade foi uma deterioração mental.
Em 1877, o seu irmão mais velho se suicida aos 38 anos com um tiro na cabeça, ele era graduado em química, havia sido nomeado conselheiro no tribunal, porém o seu quadro mental apresentava psicose evolutiva.
Após a morte do seu pai e seu irmão em 1878 Schreber casa-se com Ottlin Sabine Behr (1857-1912), embora fosse um casamento feliz, os mesmos viviam superando o desprazer de não ter filhos, devido a vários abortos espontâneos.


1.A primeira doença/internação

No ano de 1884 Schreber se candidatou à eleição para Reichstag pelo Partido Nacional Liberal, mas foi derrotado ocasionando uma séria tensão emocional devido a sua candidatura. Neste período foi internado na clínica do Dr. Flechsig, um dos grandes nomes da psiquiatria Alemã, em Leipzig, onde tentou suicido por duas vezes, dizia estar emagrecendo de 15 a 20 quilos, mas havia engordado dois quilos, sentia-se incapaz de caminhar, pediu para ser fotografado seis vezes, pois acreditava estar incurável de suas crises de hipocondria, que é um quadro que se tem medo excessivo e não realista de ter algum sintoma ou condição de saúde que pode ameaçar sua vida, ainda não diagnosticado e cultivava ideias de que iriam afasta-lo de sua mulher.
Era sua primeira internação, mas não a 1ª crise hipocondríaca, porquê existiam indícios de que já havia sofrido outra crise em 1878. Após seis meses internado, Schreber recebeu alta do hospital, aparentemente curado em um relatório formal, o Dr. Flechsig descreveu o distúrbio nervoso como sendo uma crise grave de hipocondria.

1.2 Intervalo das doenças

Passaram oito anos em vivencia “normal” com sua esposa entre 1885 a 1893, tendo um sucesso profissional, (a outorga da cruz de Cavaleiro de Primeira Classe, em 1889) foi nomeado Presidente do Tribunal Regional de Freiburg, em 1889, membro por duas eleições internas do Colegiado Distrital de Freiburg, em 1891 e 1892. Em junho de 1893 foi nomeado para o cargo de Juiz-Presidente da corte, assumindo o cargo em outubro do mesmo ano.
Entre os meses de junho e julho de 1893 sonhou por duas vezes que a doença nervosa retornaria, esses sonhos o deixou muito ansioso, e nesse estado de sonolência, entre dormir e acordar lhe vem à cabeça que seria bom ser mulher e submeter ao ato copular (a mulher no ato sexual), pensamento este, rejeitado por muito tempo, associado à pressão em atender as exigências do cargo levou-o ao colapso mental.


1.3 segunda doença/internação
             
Entre 10 de novembro de 1893 a 20 de dezembro de 1902, surgem os primeiros sintomas da paranoia, da qual consiste em uma psicose, caracterizada pelo desenvolvimento de um pensamento delirante, crônico, lúcido e sistemático, provido de uma lógica interna própria sem apresentar alucinações, o paciente queixava-se  de amolecimento cerebral, tem a sensação de morte eminente, alucinações visuais, acreditava estar morto e em decomposição, relatou que seu pênis foi arrancado por uma “sonda de nervos”, torna-se evidente as fantasias mítico-religiosas, e ainda que, sofre de peste, assim retornando a Clínica de Flechsig, onde sua condição foi provada, dando entrada em 21 de novembro de 1893 na Clínica Universitária de doenças nervosas em Leipzig. Ainda nessa crise Schreber tenta suicídio através do enforcamento e do afogamento. Afirma que Deus fala com ele e que demônios zombam dele, passa a ouvir música celestial e presencia milagres, dorme mal e grita a noite pelo hospital.
Após 6 meses internado, em junho de 1894 foi transferido para o Sanatório Particular de Dr. Pierson em Lindenhof que ele chamava de “cozinha do diabo”. Sua internação durou apenas 15 dias e foi transferido novamente para o asilo Sonnenstein, onde passou oito anos e meio internado. Segundo o psiquiatra Dr. Weber era um quadro de “insanidade alucinatória” que evoluiu para o quadro clínico de paranóia.
Nos primeiros tempos no Sonnenstein ele se manifesta a noite, durante o dia ele escreve cartas, algumas delas em italiano e assina como “Paul, o Príncipe dos infernos”, no mês de novembro de 1895, foi um momento fundamental para a vida de Schreber, ele resigna e aceitar sua transformação em mulher.
Em 1899 ocupou-se pessoalmente em todos os processos para recuperar sua capacidade civil, alegando que estava em estado de inércia desde 1894 e que o seu tratamento estava irregular, no entanto só conseguiu sua recuperação de direitos perante à sociedade somente em segunda instância.
Começou a escrever suas memórias em 1900. Em 1902 Schereber recupera o direito de administrar os seus bens de modo autônomo. Ficou mais dois anos internado lá, alegando que necessitava planejar minuciosamente sua volta à sociedade. Recebeu alta em 20 de dezembro de 1902.


1.4 Intervalo entre a segunda e terceira doença
     
Entre 20 de novembro de 1902 a 27 de novembro de 1907, Schreber viveu com sua mulher e em 1903 publicou seu livro, no mesmo ano em que adotou uma menina de 13 anos com a qual tinha um bom relacionamento. Schreber ainda mantinha a convicção que era uma mulher com seios e atributos femininos.


1.5 Terceira doença /internação
      
Ocorreu entre 27 de novembro de 1907 a 14 de abril de 1911. Em novembro de 1907 a mulher de Schreber sofre um derrame cerebral que se transformou em uma afasia, a qual durou quatro dias. No início de novembro de 1907 Schreber foi procurado por representantes de um grupo para legalizar a associação Schreber, que eram um grupo que almejava utilizar as ideias do pai de Schreber e solicitaram para tanto que ele reconhecesse a legitimidade de tais associações, prevenindo assim o uso ilegítimo das mesmas. Neste mesmo ano sua mãe faleceu e Schreber reage mal ao ocorrido, voltando a ouvir vozes, sentir angústia, crises de insônia, causas que o levaram para a terceira internação no Sanatório de Dosen. O fato é que o jurista foi hospitalizado num estado psíquico considerado gravíssimo, passa maior parte do tempo deitado, com uma postura rígida, com os olhos fechados como quem escuta, intencionalmente suja-se com urina e fezes, começa a imitar ruídos como “há-há-há”, passa a comer pouco, alega que não tem estômago. Em 1909 seu estado se agrava impossibilitando-o de locomover-se por fim, em 14 de abril de 1911 com sintomas de insuficiência cardíaca Schreber morre aos 51 anos.
Daniel Paul Schreber passou treze anos de sua vida em sanatórios psiquiátricos, terminando seus dias demenciado e internado. Ele não correspondeu ao modelo que seu pai possuía de cidadão ilustre. Entretanto, ele atingiu a imortalidade que os Schreber sempre requisitaram (CARONE, 1995).  
       

1.6 Freud e o caso Schreber
         
Corpo como objeto de satisfação e amor, constituindo o estágio narcísico do desenvolvimento da libido e o interesse por alguém com genitais semelhantes, uma escolha homossexual. Só depois, a libido voltaria para alguém com diferentes genitais, a escolha heterossexual de objeto.
Os delírios seriam as diversas possibilidades da proposição conflitiva, o impulso homossexual-narcísico-reprimido, porque não foi passado de forma plena, a libido em grande intensidade e que não encontra onde desaguar, pode torna-se uma sexualização de instintos de ordem social perdendo toda a sublimação conseguida. Delírio de perseguição: O juiz Daniel Paul Schreber, publica em 1903 “Memórias de Um Doente de Nervos. Mas só em 1910 é que Freud lê e publica o texto intitulado “Notas psicanalíticas sobre um relato de um caso de paranoia (Dementia paranoides) ”, que amplia os debates entre psiquiatras, afirmando que a quem é acometido pela paranoia só relata o que quer não sendo possível fazer modificar as suas resistências interiores.
Segundo a interpretação de Freud, e que só foi possível, compreendendo as principais partes dos delírios de Schreber que apresentava um quadro de paranoia. Que o levava a um desejo de transforma-se em mulher que relacionado ao papel redentor cujo o delírio de sofrer abuso sexual evolui para um delírio sexual de perseguição transformando-se em delírio místico (religioso) de grandeza, porém, ele só alcança relativa tranquilidade e a diminuição dos delírios de perseguição quando aceita a emasculação como forma de realizar o desejo homossexual reprimido, e assumindo as consequências. Para Schreber a emasculação tem uma ligação com os nervos de Deus e que havia incorporado “nervos femininos” e uma nova raça se originaria e seria fecundada por Deus. A impossibilidade de procriar foi o desencadeador do quadro mental (delirante).
As características observadas por Freud nos seres masculinos são as desconsiderações sociais e que trazem elementos homossexuais instaurados na vida emocional do indivíduo, e as humilhações. A paranoia quando analisada percebe-se que sempre está calcada em desejos eróticos sensuais.
Freud acredita que houve um processo de transferência (sentimentos que são transferidos para uma pessoa que representa um importante papel na vida do indivíduo), no início do relacionamento com Flechsing, mas na verdade Freud completa esta interpretação afirmando que o médico estaria representado nas figuras do pai e do irmão de Schreber e que “apesar de” delírios, alucinações, havia métodos na loucura de Schreber, cujos pontos relevantes seriam os nervos, o estado de beatitude, a hierarquia divina e os atributos de Deus.
Schreber luta para livrar-se desesperadamente da fantasia inconsciente do desejo homossexual passivo, na fase inicial da enfermidade, e a psicanálise explica a função do desejo homossexual relacionado à paranoia.
O perseguidor estaria representado por uma pessoa que teria sido muito significativa na vida do paciente e a intensidade da relação projetada com poder externo, transformando a relação em oposto, amor em ódio, justificado pela perseguição.
A proposta de Freud quanto ao mecanismo da paranoia, no caso Schreber, trata do complexo paterno, presente em todas as enfermidades mentais. Ele introduz a noção de narcisismo, antes mesmo de desenvolvê-la, conceituando as pulsões sexuais e denominou de estágio auto erótico da libido, a relação com o pai de certa maneira positiva determinou a possibilidade delirante. A regressão teve como o ponto de fixação o narcisismo num primeiro momento o próprio amor que se transforma em ódio, vice e versa (explica o porquê da perseguição) a repressão age afastando a libido das pessoas e coisas que antes eram amadas; Erotomania (delírio de ser constantemente assediado por alguém do sexo oposto); Delírio de ciúmes em mulheres; Megalomania (amor a si mesmo).
A fantasia de fim do mundo que Schreber apresentava era uma projeção para o mundo externo de uma catástrofe interna, por não ser suportável e a reconstrução do mundo ocorria através de delírios, é na realidade uma tentativa de cura, um processo de reconstrução. Mas a paranoia ainda precisava de mais estudos, caso a caso, para não ser confundido com outras tantas patologias.



CONCLUSÃO
                       
       O caso Schreber, é um dos casos mais conhecidos da psicanálise. Sendo um dos casos clínico o mais curioso e cheio de nuances. Após o próprio Paul Schreber escrever a sua história, Freud teve a iniciativa de estudá-lo, sempre sendo esclarecido o fato por não ter acompanhado o caso, se baseou nas próprias palavras de Schreber, sem alterar ou acrescentar nada, apenas seguindo a linha de tradução original. Ás pesquisas feitas que se encontra sobre o caso Schreber, mostra vários estudiosos que se aventurarem nas nuances do caso mais complexo de todos os tempos, mesmo após mais de 100 anos do ocorrido.
A psicanálise surge da instigante inquietação de Freud em relação ao corpo, e torna-se um elemento fundamental para o entendimento do psiquismo humano, o caso Schreber, trouxe importantes contribuições acerca da temática, contribuindo para reafirmar, ampliar e modificar conceitos, sendo fonte inesgotável de análise nos estudos psicanalíticos e ainda hoje em pesquisas que se especializaram sobre o corpo.
O tema levanta muitas controvérsias dos sintomas descritos, levando a muitos estudiosos a tentar conhecer mais sobre a história do tão famoso presidente jurista, que faze-nos acreditar que rejeita novas percepções do mundo externo e cria um mundo interno para atender os seus desejos inconscientes e a teoria da libido o leva a uma afirmação famosa: “Fica para o futuro decidir se há mais delírio de Schreber do que estamos preparados para acreditar”.


         REFERÊNCIAS

CARONE, M. Da loucura de prestígio ao prestígio da loucura. In: SCHREBER, D.P. Memórias de um doente dos nervos. 3. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1995. 

COUTINHO, Alberto Henrique Soares de Azeredo. Schreber e as psicoses na psiquiatria e na psicanálise: uma breve leitura. Reverso, Belo Horizonte, v. 27, n. 52, p. 51-61, set.  2005.  
Disponívelem:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.Php?Script=sci_arttext&pid=S0102-73952005000100008&lng=pt&nrm=ISO>. Acessos em 29 mar.  2016.
Disponível em: www.apsicanalise.com/index.php/blog.../48.../402-daniel-paul-schreber

FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996(1911). Vol. XXI, p. 21-89.
   
MATTOS, J. Schreber: um corpo-mulher para um pai. In: O corpo da psicanálise. Publicação da Escola Letra Freudiana. Ano XIX, n. 27. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000, p. 153-162

SCHREBER, Daniel Paul. Memórias de um doente dos nervos. São Paulo: Paz     e Terra, 1984


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