Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ENA8sCpj-6. Acessos em 29 de mar.2016
1.INTRODUÇÃO
CASO
SCHREBER
ANDRADE, Viviane Guedes.
FIGUEIREDO, Ana Emilly Ferreira
de.
SILVA, Ana Patrícia
Cordeiro da.
SILVA, José Alexandre da.
SILVA, José Carlos
Honorato.
RODRIGUES, Paula Ivone da
Silva.
RESUMO
É
importante trazer que, contrariamente a outros exemplos de Freud, o estudo
sobre Schreber se realiza no testemunho de seus escritos. Freud não vivenciou
esse caso clinicamente, porém a metodologia em estudo foi rigorosamente à
mesma: só as palavras do paciente relatam sobre o fato; Checchinato (1988)
afirmou que Freud não arriscou nenhuma interpretação que não surgisse do
contraste delas na dialética viva do texto. Contudo, propomos o conhecimento do
caso, tais como suas nuances e complexos, a visão de Freud para o mesmo e
concluímos com a descrição do caso nos dias de hoje.
Palavras
chaves: Paranoia, Neurose, Hipocondria, libido,
internação.
1.INTRODUÇÃO
O Presente artigo trata-se
do “Caso Schreber” um estudo sobre paranoia, descrevendo sobre sua vida e
tópicos do tempo de doenças e internações, envolvendo os “surtos” que o mesmo
desenvolvia durante essas fases como: Neurose, Psicose, Delírios, Paranóia e Hipocondria.
Que estão ligados a níveis e sintomas parecidos. A elaboração deste
trabalho tenta fornecer subsídios do histórico de vida familiar, para uma
melhor compreensão do caso, através de elementos que possam ser proveitosos à
compreensão da realidade de algumas enfermidades, especificamente o corpo e sua
relação com o psiquismo.
Em 25 de julho de 1842
nasce Daniel Paul Schreber, em Leipzig na Alemanha, filho do médico ortopedista
e pedagogo, Daniel Gottlieb Moritz (1808-1861) e Louise Kenrietta Pauline Haase
(1815-1907), uma família de burgueses protestantes, com uma rígida educação
moral. Sabe-se que sua mãe era dominada por seu pai, uma mulher apática e
deprimida.
Conforme afirma Carone
(1995), o pai de Schreber se orgulhava de ter aplicado em seus próprios filhos
seus métodos educacionais, dizendo que os resultados obtidos tinham sido
excelentes. O que se sabe sobre a infância de Schreber é que ele se submeteu
passivamente às técnicas educacionais empreendidas pelo seu pai. Pode-se
considerar que ele foi um dedicado aluno, de natureza tranquila, que não
demonstrava paixão em suas ações. Possuía um talento próprio que se embasava
mais em uma crítica intelectual do que em atividades que requeressem o uso de
sua imaginação e criatividade. Sua obra demonstra que ele possuía uma sólida e
diversificada formação cultural (CARONE, 1995).
Em 1858 o pai de Schreber
sofreu um grave acidente aos 51 anos, quando uma barra de ferro caiu sobre a
sua cabeça ocasionando um comprometimento em seu quadro mental e aos 53 anos
morre no hospital em Leipzig vítima de obstrução intestinal, porém, acredita-se
que tenha sido uma mentira apenas para disfarçar, e que na verdade foi uma
deterioração mental.
Em 1877, o seu irmão mais
velho se suicida aos 38 anos com um tiro na cabeça, ele era graduado em
química, havia sido nomeado conselheiro no tribunal, porém o seu quadro mental
apresentava psicose evolutiva.
Após a morte do seu pai e
seu irmão em 1878 Schreber casa-se com Ottlin Sabine Behr (1857-1912), embora
fosse um casamento feliz, os mesmos viviam superando o desprazer de não ter
filhos, devido a vários abortos espontâneos.
1.A primeira doença/internação
No ano de 1884 Schreber se
candidatou à eleição para Reichstag pelo Partido Nacional Liberal, mas foi
derrotado ocasionando uma séria tensão emocional devido a sua candidatura.
Neste período foi internado na clínica do Dr. Flechsig, um dos grandes nomes da
psiquiatria Alemã, em Leipzig, onde tentou suicido por duas vezes, dizia estar
emagrecendo de 15 a 20 quilos, mas havia engordado dois quilos, sentia-se
incapaz de caminhar, pediu para ser fotografado seis vezes, pois acreditava
estar incurável de suas crises de hipocondria, que é um quadro que se tem medo
excessivo e não realista de ter algum sintoma ou condição de saúde que pode
ameaçar sua vida, ainda não diagnosticado e cultivava ideias de que iriam
afasta-lo de sua mulher.
Era sua primeira
internação, mas não a 1ª crise hipocondríaca, porquê existiam indícios de que
já havia sofrido outra crise em 1878. Após seis meses internado, Schreber
recebeu alta do hospital, aparentemente curado em um relatório formal, o Dr.
Flechsig descreveu o distúrbio nervoso como sendo uma crise grave de
hipocondria.
1.2 Intervalo das doenças
Passaram oito anos em
vivencia “normal” com sua esposa entre 1885 a 1893, tendo um sucesso
profissional, (a outorga da cruz de Cavaleiro de Primeira Classe, em 1889) foi
nomeado Presidente do Tribunal Regional de Freiburg, em 1889, membro por duas
eleições internas do Colegiado Distrital de Freiburg, em 1891 e 1892. Em junho
de 1893 foi nomeado para o cargo de Juiz-Presidente da corte, assumindo o cargo
em outubro do mesmo ano.
Entre os meses de junho e
julho de 1893 sonhou por duas vezes que a doença nervosa retornaria, esses
sonhos o deixou muito ansioso, e nesse estado de sonolência, entre dormir e
acordar lhe vem à cabeça que seria bom ser mulher e submeter ao ato copular (a
mulher no ato sexual), pensamento este, rejeitado por muito tempo, associado à
pressão em atender as exigências do cargo levou-o ao colapso mental.
1.3 segunda
doença/internação
Entre 10 de novembro de
1893 a 20 de dezembro de 1902, surgem os primeiros sintomas da paranoia, da
qual consiste em uma psicose, caracterizada pelo desenvolvimento de um
pensamento delirante, crônico, lúcido e sistemático, provido de uma lógica
interna própria sem apresentar alucinações, o paciente queixava-se de
amolecimento cerebral, tem a sensação de morte eminente, alucinações visuais,
acreditava estar morto e em decomposição, relatou que seu pênis foi arrancado
por uma “sonda de nervos”, torna-se evidente as fantasias mítico-religiosas, e
ainda que, sofre de peste, assim retornando a Clínica de Flechsig, onde sua
condição foi provada, dando entrada em 21 de novembro de 1893 na Clínica
Universitária de doenças nervosas em Leipzig. Ainda nessa crise Schreber tenta
suicídio através do enforcamento e do afogamento. Afirma que Deus fala com ele
e que demônios zombam dele, passa a ouvir música celestial e presencia
milagres, dorme mal e grita a noite pelo hospital.
Após 6 meses internado, em
junho de 1894 foi transferido para o Sanatório Particular de Dr. Pierson em
Lindenhof que ele chamava de “cozinha do diabo”. Sua internação durou apenas 15
dias e foi transferido novamente para o asilo Sonnenstein, onde passou oito
anos e meio internado. Segundo o psiquiatra Dr. Weber era um quadro de
“insanidade alucinatória” que evoluiu para o quadro clínico de paranóia.
Nos primeiros tempos no
Sonnenstein ele se manifesta a noite, durante o dia ele escreve cartas, algumas
delas em italiano e assina como “Paul, o Príncipe dos infernos”, no mês de
novembro de 1895, foi um momento fundamental para a vida de Schreber, ele
resigna e aceitar sua transformação em mulher.
Em 1899 ocupou-se
pessoalmente em todos os processos para recuperar sua capacidade civil,
alegando que estava em estado de inércia desde 1894 e que o seu tratamento
estava irregular, no entanto só conseguiu sua recuperação de direitos perante à
sociedade somente em segunda instância.
Começou a escrever suas
memórias em 1900. Em 1902 Schereber recupera o direito de administrar os seus
bens de modo autônomo. Ficou mais dois anos internado lá, alegando que
necessitava planejar minuciosamente sua volta à sociedade. Recebeu alta em 20
de dezembro de 1902.
1.4 Intervalo entre a
segunda e terceira doença
Entre 20 de novembro de
1902 a 27 de novembro de 1907, Schreber viveu com sua mulher e em 1903 publicou
seu livro, no mesmo ano em que adotou uma menina de 13 anos com a qual tinha um
bom relacionamento. Schreber ainda mantinha a convicção que era uma mulher com
seios e atributos femininos.
1.5 Terceira doença
/internação
Ocorreu entre 27 de
novembro de 1907 a 14 de abril de 1911. Em novembro de 1907 a mulher de
Schreber sofre um derrame cerebral que se transformou em uma afasia, a qual
durou quatro dias. No início de novembro de 1907 Schreber foi procurado por
representantes de um grupo para legalizar a associação Schreber, que eram um
grupo que almejava utilizar as ideias do pai de Schreber e solicitaram para
tanto que ele reconhecesse a legitimidade de tais associações, prevenindo assim
o uso ilegítimo das mesmas. Neste mesmo ano sua mãe faleceu e Schreber reage
mal ao ocorrido, voltando a ouvir vozes, sentir angústia, crises de insônia,
causas que o levaram para a terceira internação no Sanatório de Dosen. O fato é
que o jurista foi hospitalizado num estado psíquico considerado gravíssimo,
passa maior parte do tempo deitado, com uma postura rígida, com os olhos
fechados como quem escuta, intencionalmente suja-se com urina e fezes, começa a
imitar ruídos como “há-há-há”, passa a comer pouco, alega que não tem estômago.
Em 1909 seu estado se agrava impossibilitando-o de locomover-se por fim, em 14
de abril de 1911 com sintomas de insuficiência cardíaca Schreber morre aos 51
anos.
Daniel Paul Schreber
passou treze anos de sua vida em sanatórios psiquiátricos, terminando seus dias
demenciado e internado. Ele não correspondeu ao modelo que seu pai possuía de
cidadão ilustre. Entretanto, ele atingiu a imortalidade que os Schreber sempre
requisitaram (CARONE, 1995).
1.6 Freud e o caso Schreber
Corpo como objeto de
satisfação e amor, constituindo o estágio narcísico do desenvolvimento da
libido e o interesse por alguém com genitais semelhantes, uma escolha
homossexual. Só depois, a libido voltaria para alguém com diferentes genitais,
a escolha heterossexual de objeto.
Os delírios seriam as
diversas possibilidades da proposição conflitiva, o impulso
homossexual-narcísico-reprimido, porque não foi passado de forma plena, a
libido em grande intensidade e que não encontra onde desaguar, pode torna-se
uma sexualização de instintos de ordem social perdendo toda a sublimação
conseguida. Delírio de perseguição: O juiz Daniel Paul Schreber, publica em
1903 “Memórias de Um Doente de Nervos. Mas só em 1910 é que Freud lê e publica
o texto intitulado “Notas psicanalíticas sobre um relato de um caso de paranoia
(Dementia paranoides) ”, que amplia os debates entre psiquiatras, afirmando que
a quem é acometido pela paranoia só relata o que quer não sendo possível fazer
modificar as suas resistências interiores.
Segundo a interpretação de
Freud, e que só foi possível, compreendendo as principais partes dos delírios
de Schreber que apresentava um quadro de paranoia. Que o levava a um desejo de
transforma-se em mulher que relacionado ao papel redentor cujo o delírio de
sofrer abuso sexual evolui para um delírio sexual de perseguição
transformando-se em delírio místico (religioso) de grandeza, porém, ele só
alcança relativa tranquilidade e a diminuição dos delírios de perseguição quando
aceita a emasculação como forma de realizar o desejo homossexual reprimido, e
assumindo as consequências. Para Schreber a emasculação tem uma ligação com os
nervos de Deus e que havia incorporado “nervos femininos” e uma nova raça se
originaria e seria fecundada por Deus. A impossibilidade de procriar foi o
desencadeador do quadro mental (delirante).
As características
observadas por Freud nos seres masculinos são as desconsiderações sociais e que
trazem elementos homossexuais instaurados na vida emocional do indivíduo, e as
humilhações. A paranoia quando analisada percebe-se que sempre está calcada em
desejos eróticos sensuais.
Freud acredita que houve
um processo de transferência (sentimentos que são transferidos para uma pessoa
que representa um importante papel na vida do indivíduo), no início do
relacionamento com Flechsing, mas na verdade Freud completa esta interpretação
afirmando que o médico estaria representado nas figuras do pai e do irmão de
Schreber e que “apesar de” delírios, alucinações, havia métodos na loucura de
Schreber, cujos pontos relevantes seriam os nervos, o estado de beatitude, a
hierarquia divina e os atributos de Deus.
Schreber luta para
livrar-se desesperadamente da fantasia inconsciente do desejo homossexual
passivo, na fase inicial da enfermidade, e a psicanálise explica a função do
desejo homossexual relacionado à paranoia.
O perseguidor estaria
representado por uma pessoa que teria sido muito significativa na vida do
paciente e a intensidade da relação projetada com poder externo, transformando
a relação em oposto, amor em ódio, justificado pela perseguição.
A proposta de Freud quanto
ao mecanismo da paranoia, no caso Schreber, trata do complexo paterno, presente
em todas as enfermidades mentais. Ele introduz a noção de narcisismo, antes
mesmo de desenvolvê-la, conceituando as pulsões sexuais e denominou de estágio
auto erótico da libido, a relação com o pai de certa maneira positiva
determinou a possibilidade delirante. A regressão teve como o ponto de fixação
o narcisismo num primeiro momento o próprio amor que se transforma em ódio,
vice e versa (explica o porquê da perseguição) a repressão age afastando a
libido das pessoas e coisas que antes eram amadas; Erotomania (delírio de ser
constantemente assediado por alguém do sexo oposto); Delírio de ciúmes em
mulheres; Megalomania (amor a si mesmo).
A fantasia de fim do mundo
que Schreber apresentava era uma projeção para o mundo externo de uma
catástrofe interna, por não ser suportável e a reconstrução do mundo ocorria
através de delírios, é na realidade uma tentativa de cura, um processo de
reconstrução. Mas a paranoia ainda precisava de mais estudos, caso a caso,
para não ser confundido com outras tantas patologias.
CONCLUSÃO
O
caso Schreber, é um dos casos mais conhecidos da psicanálise. Sendo um dos
casos clínico o mais curioso e cheio de nuances. Após o próprio Paul Schreber
escrever a sua história, Freud teve a iniciativa de estudá-lo, sempre sendo
esclarecido o fato por não ter acompanhado o caso, se baseou nas próprias
palavras de Schreber, sem alterar ou acrescentar nada, apenas seguindo a linha
de tradução original. Ás pesquisas feitas que se encontra sobre o caso
Schreber, mostra vários estudiosos que se aventurarem nas nuances do caso mais
complexo de todos os tempos, mesmo após mais de 100 anos do ocorrido.
A psicanálise surge da
instigante inquietação de Freud em relação ao corpo, e torna-se um elemento
fundamental para o entendimento do psiquismo humano, o caso Schreber, trouxe
importantes contribuições acerca da temática, contribuindo para reafirmar,
ampliar e modificar conceitos, sendo fonte inesgotável de análise nos estudos
psicanalíticos e ainda hoje em pesquisas que se especializaram sobre o corpo.
O tema levanta muitas
controvérsias dos sintomas descritos, levando a muitos estudiosos a tentar
conhecer mais sobre a história do tão famoso presidente jurista, que faze-nos
acreditar que rejeita novas percepções do mundo externo e cria um mundo interno
para atender os seus desejos inconscientes e a teoria da libido o leva a uma
afirmação famosa: “Fica para o futuro decidir se há mais delírio de Schreber do
que estamos preparados para acreditar”.
REFERÊNCIAS
CARONE, M. Da
loucura de prestígio ao prestígio da loucura. In: SCHREBER, D.P. Memórias
de um doente dos nervos. 3. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1995.
COUTINHO, Alberto Henrique
Soares de Azeredo. Schreber e as psicoses na psiquiatria e na
psicanálise: uma breve leitura. Reverso, Belo Horizonte, v.
27, n. 52, p. 51-61, set. 2005.
Disponívelem:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.Php?Script=sci_arttext&pid=S0102-73952005000100008&lng=pt&nrm=ISO>.
Acessos em 29 mar. 2016.
Disponível
em: www.apsicanalise.com/index.php/blog.../48.../402-daniel-paul-schreber
FREUD, S. Notas
psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia Edição
standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1996(1911). Vol. XXI, p. 21-89.
MATTOS, J. Schreber:
um corpo-mulher para um pai. In: O corpo da psicanálise. Publicação da
Escola Letra Freudiana. Ano XIX, n. 27. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000, p.
153-162
SCHREBER, Daniel
Paul. Memórias de um doente dos nervos. São Paulo:
Paz e Terra, 1984
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