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quarta-feira, 20 de abril de 2016

RECALQUE: A PEDRA ANGULAR DE FREUD.




RECALQUE: A PEDRA ANGULAR DE FREUD.


Fernandes, A; Macedo,K; Nascimento,E.C; Nascimento,G; Oliveira,D;




RESUMO
   

Os autores explicam como foi o surgimento do termo recalque e da sua importância na construção da psicanálise como ciência, demonstra à divisão do recalque no inconsciente e como afeta a vida do individuo. Este artigo consiste numa revisão em torno dos conceitos de "inconsciente" e "consciente", a partir dos pontos de vista da psicanálise, privilegiando momentos iniciais da obra freudiana no sentido de apontar a sua descoberta por Freud. O artigo também mostra as mudanças na técnica terapêutica, que levou Freud a abandonar a hipnose, para introduzir o conceito do recalque e o mesmo sendo dividido em três momentos, onde é proposto que o recalque não é apenas um mecanismo de defesa, mais sim a peça fundamental onde se consiste toda a estrutura da psicanálise.



INTRODUÇÃO


O mecanismo do recalque é uma edificação teórica de principal importância tanto na compreensão da teoria freudiana quando em sua utilização na clínica. Freud bem antes de 1915 ao estudar as histerias utilizando hipnose já se deparava com fenômenos clínicos de resistência. Representações que suas pacientes lutavam em torná-las conscientes, representações recalcadas. Levando-nos a tentar entender porque o recalque foi peça fundamental para a construção da psicanálise e esse termo ainda é tão usado nos dias de hoje. Suas primeiras menções a este conceito foi publicada em seu texto comunicação preliminar de Breuer e Freud. Entendemos que o mecanismo do recalque dá ao analista uma estrutura teórica que permite entender determinados fenômenos clínicos e direcionar o melhor caminho para o entender esse fenômeno na terapia. Para isto iremos ver o seguinte caminho: Inicialmente será abordada a questão do recalque na obra freudiana. Em seguida vamos explicar o conceito de recalque primário ou originário, recalque secundário ou propriamente dito e retorno do recalcado.



DESENVOLVIMENTO


Em 1914, Freud aponta para a importância desse conceito a alegar o seguinte:
A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer à hipnose. (FREUD, 1914, p. 26).
O recalcamento é o mecanismo de defesa mais antigo, e o mais importante; foi descrito por Freud desde 1895.  Está totalmente ligado a noção de inconsciente e é um processo através do qual se exclui da consciência partes inteiras da vida afetiva e relacional profunda. Trata-se de um processo que mira manter no inconsciente todas as ideias e representações das pulsões cuja relação produtora de prazer comprometeria o equilíbrio psicológico do indivíduo transformando-se em uma fonte de desprazer. O recalque é uma barreira na qual uma pulsão que prejudicaria a estabilidade psicológica, bate e volta. Esse movimento é contínuo e diversas das nossas atitudes é espelho do recalque. “Re” quer dizer ir de novo. “Calcar” é a marca que fica no inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma forma de fuga de conteúdos internos que ameaçariam o ego. Desta forma, permanecem no inconsciente, no entanto, não sem causar consequências e definir comportamentos e atitudes. Pelo contrário, quanto maior a luta entre o conteúdo reprimido que deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter o ameaçador fora, mais se abrigam consequências negativas na rota da vida do sujeito. Ademais, trata-se de uma força sucessiva de pressão que rouba muito da energia psíquica da pessoa.
Podemos situar o recalque como um dos mecanismos de defesa, ou melhor, como um dos momentos da intervenção preventiva, que está presente em muitas neuroses. Sob seu aspecto totalmente funcional, o recalcamento é indispensável à facilitação da existência continua e não provoca sempre uma soberba doentia. Quando entra em cena de maneira patológica trata-se de organizações neuróticas ou sistemas defensivos de modo neurótico. (BERGERET, 2006)
As sessões de análise são capazes de acalmar aos poucos conflitos naturais de conteúdos recalcados. Trabalha-se em busca de revelação do recalcado tendo como guia o discurso do paciente. Rastreando a narrativa da história objetiva-se conferir saber ao sujeito na liberação do conteúdo recalcado que então, se integra na cadeia consciente.
O processo de manter o que foi recusado longe da consciência muitas vezes falha, pois o conteúdo recalcado volta, ainda que com outro aspecto. Assim, a luta psíquica entre o consciente e o inconsciente resulta na volta do recalcado. Essa volta surge sob forma de camuflagem - sintomas. Essa camuflagem do recalcado é conhecida como sintoma neurótico. O que outrora provocou satisfação é retirado da consciência e substituído por um sintoma. Então, a mesma satisfação passa, a partir da mudança do que foi tirado do sintoma. Na experiência do tratamento trata-se de revelação através da interpretação porque o inconsciente só se manifesta pela via da alteração, da distorção e da transposição.
Tanto como o ato de falar sobre o sofrimento promover certo alívio, durante o tratamento o desejo inconsciente tem a possibilidade de ir aparecendo. Temos então, que é um dos efeitos de uma psicoterapia psicanalítica o desaparecimento de sintomas que causam tanto sofrimento através da substituição do recalque camuflado em sintoma por saber do desejo inconsciente. Para, além disso, o fechamento dos sintomas é consequência e não objetivo direto e por isso afirma-se que o tratamento aumenta a cura do sintoma com o objetivo do reconhecimento do desejo. Freud diz que o recalque não é um mecanismo de defesa presente desde o início; só pode surgir quando tiver ocorrido uma divergência marcante entre a atividade mental consciente e a inconsciente. E que antes da organização mental obter essa fase a tarefa de afastar os impulsos pulsionais cabia a outras alternativas, as quais as pulsões podem estar sujeitas. Bergeret (2006) define o recalcamento como um processo ativo, destinado a arquivar fora da consciência às representações inaceitáveis.
A divisão feita em 1915 discrimina três fases do recalque: A fixação, o recalque propriamente dito e o retorno do recalcado.



1.1 A FIXAÇÃO OU RECALQUE PRIMÁRIO


Freud desconfia da existência de um primeiro momento do recalque, portanto, "que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional)” da pulsão. (FREUD, 1915, p.171). Com essa primeira parte do recalque há uma fixação, em função da qual o representante psíquico continua inalterado e ligado à pulsão.

É o resto de uma época arcaica, individual ou coletiva, em que toda representação incômoda (imagens da cena primitiva, de ameaças à vida ou seduções pelo adulto) se encontrava automática e imediatamente recalcada, sem ter-se tornado consciente; é o polo atrativo a seguir, os pontos de fixação dos recalcados ulteriores relacionando-se aos mesmos gêneros de representações. (BERGERET, 2006, pág. 99).
Antes de serem formados os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente, certas experiências cujo significado não existe para o sujeito são inscritas no inconsciente e têm seu acesso à consciência fechado a partir de então. Essas inscrições vão funcionar como o recalcado original (Urverdragngung) que servirá de polo de atração para o recalcamento propriamente dito (Nachdangen). Para Freud esse “recalque primevo” consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico da pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação.
Características da 1ª Fase – Recalque primário: Uma primeira fase de repressão, que consiste em negar a entrada no consciente da ideia. Com isso, estabelece-se uma fixação no inconsciente; a partir de então, a ideia continua inalterada, e o instinto permanece ligado a ele. Isso se deve às propriedades dos processos inconscientes. Responsável por manter ideias recalcadas no inconsciente, que nunca chegarão ao consciente. A fixação condiciona e precede todo o recalque.


1.2 RECALCAMENTO SECUNDÁRIO (OU RECALCAMENTO PROPRIAMENTE DITO)


Consiste em um duplo movimento de atração pelas fixações do recalcamento primário e de repulsão pelas causas proibidoras: superego (o ego, se tonara aliado do superego causando assim as proibições) (BERGERET, 2006). Segundo Freud (1915) o recalque propriamente dito afeta os derivados mentais do representante recalcado, ou sucessões de pensamento que, originando-se em outra parte, tenham entrado em ligação associativa com ego. Roza (2005) diz que o que ocorre no recalcamento originário não é nem um investimento por parte do inconsciente, nem um desinvestimento por parte do pré-consciente/consciente, mas um contra investimento.
No caso, a noção de contra investimento está sendo utilizada para designar uma defesa contra um excesso de excitação proveniente do exterior, capaz de romper o escudo protetor contra os estímulos. (ROZA, 2005, pág. 161).
Características da 2ª Fase – A segunda fase da repressão são duas forças que atuam no recalque propriamente dito: repulsão que atua a partir do consciente sobre oque deve ser recalcado, e a atração exercida pelo que foi primeiramente repelido sobre tudo aquilo que possa estabelecer uma ligação. Por causa dessa associação, essas ideias sofrem o mesmo destino daquilo que     foi primeiramente reprimido. Essas ideias que entram em conflito com o consciente serão recalcadas para o inconsciente.
      


1.3 RETORNO DO RECALQUE


Sabe-se, no entanto, que o recalque, em geral, "deixa sintomas em seu rastro". (FREUD, 1915, p. 177). Tanto as formações substitutivas como os sintomas são indicações de um retorno do recalcado e são criados por métodos diferentes ao recalque. Este seria, enfim, o terceiro momento do recalque, ou seja, a volta do recalcado, que busca ainda realizar as exigências da pulsão. Nesse sentido, o recalque, nesse terceiro momento, pode ser entendido com um permanente gasto de força: enquanto o recalcado, através dos seus derivados, "exerce uma pressão contínua em direção ao consciente", continua havendo uma "contrapressão incessante", que parte de um interesse superior, ou seja, a consciência. (FREUD, 1915, p. 174-175)O retorno do recalcado pode incidir ou em uma simples “escapada” do processo de recalcamento (sonho, fantasias), ou em uma forma às vezes sem importância (lapsos, atos falhos), ou, ainda, em manifestações patológicas de fracasso real do recalcamento (sintomas). (BERGERET, 2006). O recalcamento não organiza essas formações.
Fenichel (2005) define o recalque como esquecimento inconsciente intencional, os quais, via de regra, representa possíveis tentações ou castigos de exigências recrimináveis da pulsão , quando não meras citações a estas, aponta ainda que há casos em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões referentes, o significado, o valor emocional são reprimidos. Não tem como determinar qual o grau de distorção e de distancia no tempo necessário para a exclusão da resistência por parte do consciente. E, via de regra, o recalque só é removido por um tempo, reinstalando-se imediatamente. Freud esclarece que o processo de recalcamento é altamente individual, o recalque não é um fato que acontece uma vez, produzindo resultados permanentes; ele exige um consumo persistente de força, e se esta viesse a cessar, o sucesso do recalque correria perigo, tornando necessário um novo recalque.


Características da 3ª Fase – Retorno do recalcado consiste no fracasso do recalque. Através de interferências (terapia) pode ocorrer o retorno do recalcado. O que se apresenta no corpo se representa na mente. Na consciência eles surgem quando há uma afrouxamento do recalque sob forma de: sonhos, atos falhos, chistes (momento de falar o que verdadeiramente acha, mas em tom de brincadeira). E no corpo aparece como: Angustia, ansiedade, tristeza, supressão (quando desaparece da consciência e vai para o corpo).





CONCLUSÃO


Concluímos com esse texto, que o recalque é um processo ativo onde a pessoa tenta manter o nível do consciente (ego) em equilíbrio, afastando do mesmo as emoções, desejos e lembranças que o ego entende como negativas ou obscuras e que tragam alguma dor ao individuo, assim o superego faz suas proibições, fazendo pressão em cima do ego, causando grande desconforto ao individuo, ou seja, é uma defesa imposta pelo o ego que com o tempo, por causa dessa pressão eles vêm a aparecem na forma de (sonhos, fantasias) ou em formas às vezes sem importâncias (lapsos, ato falhos) ou ainda em manifestações patológicas (sintomas), causando assim o retorno do recalque.


REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA


FREUD, S. - O inconsciente [1915] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

FREUD, S. - A história do movimento psicanalítico [1914] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

BERGERET, J. et. al. Psicopatologia: teoria e clínica. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 21ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.


FENICHEL, Otto. Teoria psicanalítica das neuroses: fundamentos e bases da doutrina psicanalítica. São Paulo, 2005. Ed. Atheneu. 665 p.

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